domingo, 27 de novembro de 2011

O fio que conecta

O penico voltou a ser usado (por uma tia-avó). Ao som do xixi da meia-noite, no quarto ao lado, sinto um fio do passado, de leve conectando-se com o presente. Um ciclo está prestes a se encerrar.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vir a ser


Tomei uma decisão corajosa. O que é a coragem? Ouvi dizer que é algo que vem do coração. (Silêncio). Na verdade, foi apenas isso mesmo. Na busca por sentidos, muitas vezes acaba-se por dar sentido demais – ao que não necessariamente precisa ou pede. Decidi sair da empresa que estava trabalhando – o Grupo TATA (conglomerado indiano) para trabalhar em uma “start-up” (entende-se um negócio que está começando). Não foi nada demais, como dizia, foi apenas isso mesmo. Todo resto é historia inventada – daquelas que contamos a nós mesmos.

Acontece que comecei a pensar o que leva uma pessoa a tomar suas decisões profissionais. Em geral, muda-se de emprego por um salário maior ou uma proposta melhor (o que, neste caso, inclui aspirações de crescimento pessoal/ profissional). Esta costuma ser rara – as pessoas mudam por dinheiro ou cargo mesmo. Eu não mudei por isso. Mudei por razoes que eu mesmo desconheço.

O trabalho é o veiculo moderno pelo qual as pessoas navegam por seus desejos e sonhos. Muitos deles compartilhados – afinal, tudo que queremos não é por si uma imitação? Deseja-se, em geral, casar-se, ter filhos, uma boa casa e para tudo isso, entende-se: preciso de um “bom” trabalho (em que certa estabilidade está incluída). Não só deseja-se, também se ordena. Primeiro os estudos, daí a casa, o casamento, etc. Esta “felicidade montada” me incomoda um pouco. Ainda não sei exatamente em qual aspecto. Não é que eu pense que nada disso traz felicidade – mas costumo me perguntar se todos são realmente necessários? Se a ordem deve mesmo ser essa: por que não ter filhos primeiro, depois casar, daí estudar?

Com o martelo não bato simplesmente por desejar quebrar. Bato porque vi que o previsível me desinteressava. Estava enfeitiçado pelo “o que existe além?” – qual felicidade ainda está para ser construída? Sinto (vale reforçar que sentir é com o coração) que existem razoes que não vemos nem entendemos. Como em um eclipse eterno, em que Lua cobriria o Sol e ao mesmo tempo não extinguiria a sua existência – então desconhecida da civilização. O intangível do fazer pelo querer, pelo fluxo, pelo fluir que é tão inerente ao ser e tão difícil à razão.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Terras longínquas


E ele voltou! De longe vinha, de terras longínquas. Que idioma lá falavam? Ninguém sabia. Que religião professavam? Ninguém conhecia. Que roupa vestiam? Qual sol batia? Quantos casamentos tinha? Ninguém entendia. E quando não se entende, se cria. Mas a sua vizinhança, esta continuava a mesma! Exceto pelo novo remendo na parede, a nova lanchonete na esquina, os pais um pouco mais velhos e as crianças, que até voz já tinham! E a todos queriam que ele reencontrasse – aquele que lhe ensinou o numero oito, aquele que o vendia as torradas quentinhas, aquela que lhe deu aulas no primário, a que rezava por ele na missa e a lista, longe ia. As perguntas eram da cartilha: onde é mesmo que você foi? E você falava a língua deles? E ao reconhecer que pouco mesmo entenderiam, davam a conversa por encerrada:

- Isso mesmo, não é? Temos que fazer o que nos faz feliz.

Os mais aventureiros, querendo se arriscar, perguntavam: “por que você gostou tanto de lá?”. Bem, vale dizer que estas eram as perguntas na superfície. Embaixo das águas, os tubarões tinham novas perguntas: “por que ele é capaz de gostar de algo que não temos aqui?”, “por que ele não quer o que queremos?” e, talvez, em alguns oceanos – “em que ele deseja nos contrariar?”.

Mas um dia ele trocou as palavras: não se lembrava, “quem é você mesmo?”. A sinceridade foi mais forte do que a vontade de agradar. Verdade é que não soube se segurar. E a senhora – esta que rezava por ele na missa – se sentiu ofendida. E na fúria, atacou: “Fiquei velha mesmo, não é? Como alguém novo vai se lembrar de uma velha?”. Lembra-se sim, apesar de não ser aquele um caso. Mas por um instante algo mais desviou sua atenção – preso ao olhar da senhora, ele não pode, senão, tornar-se ela. E confuso estava. Perguntava-se ‘o que era aquilo’ que ele não entendia. E mais, ‘por que não era capaz de aceitar aquilo que não sabia’.

A vida como ela é

Chegou a idade adulta e era hora de se mudar para a cidade. Enfim, 18 anos. Hora de “crescer” na vida, estudar mais, vir a ser. O corpo alto e magro, discurso direto e real. Capaz de um silêncio perturbador. Mudou-se para a casa dos tios (que já não viviam exatamente no interior – apenas na “periferia” da capital). A convivência era o que se pode chamar de “pacífica”. O menino trabalhava pela manhã, almoçava arroz e feijão, batia ponto na academia de porão do vizinho e à noite ia para a faculdade.

Este era o começo da história que imaginei. Daí, ele saía para estudar – passando pela cozinha e olhos sobre a família, dizia: “Até mais!”. E pensava: “não quero conversar com eles, já que não temos nada a dizer”. Não, um instante. Na verdade, ele pensava: “conversamos mais tarde – apesar de que este 'mais tarde' nunca chega”. Ainda não, refazendo – ele saía para estudar e pensava: “adoro tanto todos eles, gostaria de mais tempo para conversarmos”. Ou melhor, ele saía e pensava o que dizia: “Até mais!". O pensamento pode ser um grande absurdo.

1+1=2

Às vezes tenho a necessidade de responder perguntas grandes do tipo “afinal, o que realmente importa na vida?”. Mas aqui não me refiro às “filosofias”. Quero a prática, ação. Quero medir. Quero saber: afinal, das 24h do meu dia onde eu coloco a minha intenção?

Sinto um incômodo na altura do cotovelo. Um desejo de estalar os dedos – principalmente os polegares. Daí, estalo. E levanto. E como. E ando. E danço. E volto. E a ansiedade continua.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A beleza é relativa

E não é que até “bonito” me acharam? Logo eu, que sempre me vi “inadequado”? Como em Terra de Cegos, quem tem um olho é rei – não posso deixar de concluir que a beleza é uma questão de contexto.

Um ponto na linha


E a festa começava. Mas por que mesmo festejávamos? Celebrávamos uma etapa, um ciclo concluído, um novo andar galgado. Mas essas “etapas” não somos nós mesmos que criamos? Assim sendo, tudo estava quadrado. As crianças entraram para comemorar o fim do quinto ano do ensino fundamental. Hoje tudo se comemora e se encerra mais cedo – parece que a urgência para se “preparar” e “saber” mais (do mesmo) está se intensificando. Quem sabe em 2050 não faremos formatura de crianças de seis anos já na pré-escola? Ou de bebes na saída da maternidade? Olhando currículos? Talvez.

E como eu contava: tudo estava quadrado e caótico. O chapéu preto (cujo nome de registro é capelo) era quadrado, o barulho era caótico. E as professoras, coitadas: jovens, repetiam a cartilha e, confusas, andavam em meio aos príncipes e princesas do ensino fundamental – buscando um olhar para se encontrar, um amigo para se encostar, uma parede para se segurar. O paraninfo, ao entardecer dos seus 25 anos, declamava um discurso de poesia, beleza, amor e liberdade (ou algo neste sentido) aos jovenzinhos de nove e dez anos.

Quanta vida! E tão cedo! Talvez seja por isso que a professora de matemática estava preocupada com os erros no preenchimento de gabaritos dos simulados. O vestibular vem ai, garotada! – parecia dizer.

E a diretora? Essa me emocionou. Sua voz – pouco adequada a uma pessoa que narra um evento ou conta uma história – ecoava de maneira estranha no salão. As famílias, incomodadas com os pequenos detalhes, ao reclamar fortaleciam quem acreditavam ser. E no meio de uma coxinha de frango e uma alfinetada nos erros de gramática da professora de português – estava o olhar de esperança sobre o filho que, inconsciente do sentido do olhar, dançava.

Como uma âncora que traz todos ao chão – ou por vezes leva todos aos ares – chegou a hora de apresentar a turma de formandos da quinta série! A diretora narrava os sonhos de cada um na medida em que as crianças subiam ao palco. Sonho? Não tenho sonho – disse meu sobrinho. Daí inventava um – já que precisava ter. Engenheiros, atrizes, jogadores de futebol – o futuro brilhava nos olhos da platéia, ainda que cansada do calor e do ritual.

Mas vale comentar que tinham também aqueles que, de alegria genuína, festejavam. Felizes. Para eles, uma formatura é apenas uma formatura. E que continue sendo – lavada.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Importando

- Quanto custa?

- O que?

- Aquilo.

- Onde?

- A ideia.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A pergunta projetada

Recentemente uma grande amiga – a quem eu profundamente admiro – me perguntou qual o sentido da vida. (Silêncio). O sentido da vida – ele próprio? Desconheço. Bem, talvez como sugeriu o personagem de Ricardo Darín em “O conto chinês”, a vida seja um grande sem sentido.

E como eu gosto de criar – e tendo a permissão para tanto, criaria: o sentido para vida somos nós que damos. Afinal, o existencialismo não é um humanismo? E a pergunta não seria - ela própria - maior do que qualquer resposta?

Talvez também (ainda criando) este “sentido” seja uma grande projeção. Uma ilusão da nossa mente esperta. Ou talvez não – pode ser que eu, sozinho, seja o iludido.

O segredo matemático

Se o sentido da vida somos nós que damos (ou que criamos), logo – matematicamente – podemos tudo que queremos.

Talvez seja esse nosso “grande” segredo.

Quem sou eu?

I am my hair.







Atitudes para se valorizar

Correr: está aí uma atitude que eu admiro. Valorizo. Uma atitude de "peso". Respeito. E pronto.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Algumas direções na vida


Ando meio desnorteado. A certeza de ter que estar certo tem me esmagado. Como se caminhasse por uma estrada em que tivesse que ter certeza que as calcadas de fato existem. De fato, construí-las. Oh, Deus, e quanto me limita tudo isso? Às vezes gostaria de me dedicar mais a aprimorar meu “coração” para que ele sinta, apenas isso. Para que ele seja o meu radar, guia de mim mesmo e de alguns outros.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A força do argumento

O amigo: para que argumentar?

Outro amigo: Ninguém tem razão mesmo!

Um outro amigo: quer apostar?

domingo, 6 de novembro de 2011

O trabalho perfeito

Quem disse que tem graça em trabalhar? Estou em busca deste des”graça”do! Das cinco da manha às dez da noite, São Paulo parece muito ocupado para me ajudar a encontrá-lo. O padeiro tem que assar o pão. O maquinista acelera o primeiro trem do dia. No salão, a manicure atende as clientes. O contador faz sua “visita de negócios”. O RH finaliza a folha de pagamento. Na indústria, a copeira serve o chá da tarde. Quando eu interrompo:

- Ei moça, para que trabalhar?
- Shhh! Silêncio, senhor. Agora é hora séria, não posso papear.


E assim continua o dia: mais um biscoito feito na fábrica, um satélite enviado ao espaço, um café servido no avião e uma conta de luz chegando a nossa casa.

- Mas moça, a quem queremos enganar?
- Shhh! Silêncio, senhor. Agora é hora séria, não posso papear.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Qual o sentido da vida?

Em um workshop sobre espiritualidade no Hub Sao Paulo - o Caio Vassao(excelente facilitador!) lembrou uma celebre apresentacao do comediante americano George Carlin (um sujeito que fazia comedias de stand-up).

Achei curiosa e inteligente a postura dele - enquanto todos parecem concordar com uma "verdade comum" de que o homem "esta destruindo o planeta", George indaga "nao somos arrogantes demais para querer salvar o planeta? E pior, achar que nos podemos destrui-lo?"

E Vai alem, pergunta a plateia:

- "Qual o sentido da vida?"

- O sentido da vida e "plastico!" A natureza nao sabia como fazer plastico e criou o homem.

Quem sabe nao estamos indo em direcao a perfeita harmonia do mundo "sacolas plasticas + planeta Terra"?

Sendo “melhor” por meio da leitura

Nos últimos dois meses devorei livros. Mas para que devorá-los? Não sei. Senti que me faltava “substância”. Do pop ao rock, de Ken Robinson a Clarice Lispector, de Alain de Botton a Peter Senge. Passei até pelo new age nas graças de Eckhart Tolle. Será que ao ler, sou mais do que eu era?

Tenho o costume de aperfeiçoar a vida (e quem não tem?). Sonho com o dia em que terei minha biblioteca pessoal em casa, luz baixa, vinho na geladeira e queijo francês no prato. Ah, que dia perfeito! Nesse dia sim, a minha leitura vai me fazer mais do que eu sou. Ou não vai? Por agora fiz um pacto em acreditar que sim. Mas então bate a dúvida: o que eu faço até este dia chegar?