sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O verde de Kerala, os muculmanos em Hyderabad e o inferno de Tamil Nadu

Ai jesus amado, nos ultimos 2 meses parece que um furacao passou pela minha vida na Incredible India. Sabe quando um furacao passa e muda tudo? Assim que eu sinto. Desde as coisas de trabalho, casa, viagem, mente, espirito, corpo e por ai vai!

De basico, fazer uma viagem aqui na India e uma aventura na certa. Voce nunca consegue imaginar o que vai te esperar la. Nao e nada do tipo chegar no Cristo e tirar uma foto. O caminho todo ate la e que importa. E que caminho! E quando voce chega, que chegada! E quando voce fica, que experiencia!

Em Kerala, no sul da India - terra das medicina e massagens ayurvedicas, das plantacoes de cha, dos coqueiros (e quantos coqueiros!), e um estado comunista que abriga varios apoiadores da causa da separacao do Tibet (vixe!), rumamos para um retiro espiritual (ashram) de uma guru indiana (lider espiritual) que foi algo fora do serio. Uma experiencia para la de alucinante.

A Guru espiritual se chama “Amma”, ela cresceu no meio do coqueral no sul da India e logo foi identificado pelos pais e vizinhos que “aquela menina tem algo especial” (ou sera de estranho). A menina cresceu (ou melhor envelheceu! Porque o tamanho nao mudou muito) e o seu retiro espiritual tambem. No meio de um coqueral a perder de vista, mar de um lado, rio do outro, esta o “ashram” dela – um conjunto de predios e templos rosa “pink”.E a guru ganhou um titulo: “Amma – the love hugging Mother” ( Amma – A Mae de amor que abraca).

Amma

No Ashram, voce encontra uma concentracao hippie inexplicavel, estrangeiros para todos os lados lavando o chao, cozinhando, vigiando o quarto sagrado da Amma,... E tudo e dividido – estrangeiro de um lado, indianos de outro. Quando voce chega e passa aquele choque inicial das roupas hippies, os coqueiros, o rosa choque,...um britanico e um italiano vem te informar que voce deve dormir no quarto de “estrangeiros”, comer no restaurante dos “estrangeiros”, pegar um cracha para ver a “Amma” na fila dos “estrangeiros”...que separatismo!

O retiro espiritual (ashram) da Amma

A “Amma” ficou famosa por “abracar” seus fieis e susurrar no ouvido deles “palavras” tidas como “sagradas” que vao mudar a vida deles. Ela ja abracou 22 milhoes de pessoas. Que coisa! Fiquei nervoso com essa historia. Depois de pegarmos a senha numero 745, eu e Jhessica fomos dar uma ‘voltinha” porque ia demorar! Fomos na praia ver a galera alucinada fazendo meditacao na areia e cada pose, todos de branco, parecia uma cena daquela novela das antigaaas “A Viagem”.

Quer um abraco? Entra na fila?

No fim, ganhamos um abraco da Guru, que chegou ao ashram em grande estilo, sendo ovacionada. Parecia a Madonna chegando no maracana =) Eu vesti meu lungi novo (um tipo de pano que vira um tipo de saia que os homens usam no sul) e achando que tava arrasando fui abracar a “Amma”. E que abraco! Cada peitao. Empurraram minha cabeca peito adentro e la veio ela me suspirar as “palavras”...muiuaqueridofiloona...como e que e, Amma? Miokeydoufilin...Ai jesus, sera que eu vim ate aqui e nao vou entender o que ela ta dizendo? Amma, por favor me fala de novo! – Eu disse para ela. “Mio kerido filin”...”Meu querido filhinho”? Excuse-me, essas sao as palavras “sagradas” que vao mudar minha vida?

Peito adentro...

Barco adentro, vamos embora desse lugar louco. Galera meditando nos telhados, oracoes dancantes as 4h da manha, hippie em velocidade baixa,...bora daqui! 6 onibus depois e muito enjoo pela estrada acima chegamos nas montanhas de Munnar, uma estacao de cha no sul, que frio! E que lugar lindo!

Danca tradicional de Kerala


Deixando o verde de kerala para tras e a experiencia “espiritual” transcedental da “Amma” a viagem seguinte veio umas semanas depois – rumo a Hyderabad para o congresso internacional da AIESEC.

Dancando no IC em Hyderabad

Foi tao legal. Depois de passar 4 anos na AIESEC pude ver que a rede muda rapido, mas ainda tinha muita gente la que eu conhecia e foi divertido celebrar com eles, com os trainees da Tata e respirar dessa diversidade de culturas que a AIESEC brilhantemente reune a cada ano.

De la eu e Jhessica, em mais uma aventura, quase perdemos um voo para Chennai. Em direcao a tamil nadu, o plano: vamos tostar na caotica Chennai, visitar a cidade “francesa” de pondicherry e encerrar a jornada na “vila global” que se formou no sul da India em Auroville.

Do caos e do calor e da falta do que fazer na horrenda cidade de 15 milhoes de pessoas de Chennai, fomos nos refugiar na unica cidade na India que e tida como “francesa”, com bifao, casas e ruas com nomes em frances. Gente, que pais esquizofrenico! (No melhor dos sentidos =) A cidade francesa tem so umas ruazinhas na beira da praia porque o resto e 99% puro Tamil Nadu! Honk Honk aqui, Honk Honk de la e o caoooos completo.

Bifao em Pondicherry

Auroville ja foi mais curioso, para nao dizer surreal. Parece que uma francesa veio para India umas decadas atras e fez uma “parceira” com um guru espiritual indiano. Dai eles tiveram a brilhante ideia de fundar uma cidade da “uniao global” que abrigaria povos de todo o mundo (algo estilo Arca de Noe), teria o formato de uma galaxia e bem ao centro dela estaria uma grande esfera futuristica com um cristal que difunde a luz que entra pelo topo da esfera enquanto os habitantes da cidade meditam em absoluto silencio. Surreal? Acreditem, esse lugar existe e la ele esta, algumas decadas mais tarde: chama-se “Aurovile”.

Auroville e seu formato de Galaxia!

Na pratica, o calor infernal do sul da India tosta Auroville, mas as arvores para todo lado ajudam a refrescar. Chegando, descobrimos que duas brasileiras se mudaram para la. No centro de turismo pegamos o telefone delas e ligamos. Descobrimos que as pessoas nao vem passar “ferias” em Auroville, elas vem morar para o resto da vida! Indianos e estrangeiros de todos os cantos do mundo escolhem a cidade por alinhamento com a visao dela de ser um lugar de paz, compreensao entre culturas e seguem as ideias difindidas pelo guru indiano e a “mae” francesa que a fundaram.

Jhessica meditando em Auroville

Eu e Jhessica: Vir morar nesse inferno quente? Jesus amado...fora da nossa compreensao, mas foi so dar umas voltas, ver a bendita “bola” para meditacao com o cristal e conversar com os “aorovilianos” que sentimos “algo” diferente.

Tomamos cafe com uma francesa de origem egipcia, de 19 anos. Ela tem problemas visuais e nao conseguia enxergar direito. A mae, francesa, veio para Auroville quando ela era uma crianca. Ela morou 10 anos em Auroville dai voltou a Franca para estudar. Na Franca, foi vitima de preconceito por ser morena, de origem egipcia, mulher e deficiente visual. Alem disso, estudou na area mais marginalizada de Paris – aquela que ha alguns anos atras a populacao comecou a tacar fogo e queimar os carros. Apareceu na televisao, lembra?

A conversa foi tao marcante. Ela foi tao natural ao falar dos amigos que tavam la e botaram fogo naqueles carros, de como ela tinha se envolvido em manifestacoes, de como era sofrer preconceito na Franca (mulher, morena, estrangeira, deficiente), das brigas com a mae dela, de nao conhecer o pai...e hoje 6 anos depois de morar na Franca, ela decidiu voltar a Auroville. De vez. Quando ela disse”vou morar aqui o resto da vida”. Eu e Jhessica chocamos – jura?? Uma historia de vida tao interessante e diferente da nossa. Sozinha, aos 19 anos, ensinando matematica em uma escola de Auroville.

Muvuca na praia em Chennai

Antes de voltar a Mumbai, um pulo em Chennai para conhecer uma praia que deve ter uns 50 km e vai de norte a sul da cidade. Imagina a populacao de Vitoria toda na areia da praia, essa era a visao de um domingo a tarde em Chennai. Entre peixe frito com pimenta e “posters” de estrelas de Bollywood, deixamos o inferno de Tamil nadu para tras. Boas lembrancas da Incredible India.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Poder das ideias

Como uma ideia pode mudar a forma como voce ve as coisas? Tenho refletido sobre essas incriveis ideias que mudam a nossa percepcao do mundo. Por exemplo, lembro que ha uns 4 anos atras uma colombiana que esteve em Vitoria fez uma reuniao comigo e eu tinha o papel de realizar uma mobilizacao na universidade federal do ES para conseguir candidatos ao processo de selecao da AIESEC. Eu queria umas 70 pessoas como meta porque de historico nunca tinha sido mais do que isso. Ela me encontrou e disse: voces podem fazer 200, por que nao?

E um exemplo simples mas que teve grande efeito. O “por que nao” dela expandiu meu pensamento para algo alem do que eu imaginava. Essa tipo de ideia a que estou me referindo.

Aqui na India encontrei algumas pessoas fantasticas e tive conversas que mudaram minha forma de ver algumas coisas. Lembro de uma conversa com a Marina, uma russa que depois de 1 ano na Argentina veio passar mais de 1 ano na India. Na despedida dela, a gente falava sobre a volta a Russia, as impressoes dela sobre a Russia, que ela sentia falta de casa depois de mais de 2 anos fora. Ao mesmo tempo, ela dizia que nao sabia por quanto tempo ia ficar na Russia. De uma maneira tao natural, ela lancou uma ideia que “expandiu meu pensamento”: volto a Russia mas nao sei ate quando, que fique mais ou menos tempo, a minha vida vai ser uma eterna mudanca.

Tem algo em comum nessa ideia com que eu pude me relacionar. Parece um bichinho dentro da gente que faz sempre a gente querer mudar, crescer, fazer mais e mais coisas, mais coisas diferentes, mais desafios, mais problemas para resolver. E quando ta resolvido, uma vontade grande de fazer mais alguma coisa, cavar, descobrir, se surpreender. Essa busca vai alem do espaco ou do pais que voce esta. Percebi que ela esta dentro de mim assim como da Marina. Essa foi uma ideia que expandiu meu pensamento.

Meu chefe indiano e fantastico. Ele foi um mestre em lancar ideias desse tipo. Lembro de quando eu cheguei e tudo no trabalho demorava, nada era facil de ser completado sem acompanhamento. Dai ele me viu depois de duas semanas ainda sem acesso ao site interno da empresa. “Voce nao tem acesso?” Dai veio minha desculpa: “nao consegui, nao me responderam.” Dai ele lanca a ideia: “aqui nada vai vir de graca. Essa e a cultura. Voce e o responsavel final. A falta de acesso e sua responsabilidade. So sua.” Daquele dia em diante nenhuma justifica jamais valeu a pena.