terça-feira, 24 de abril de 2012
Terapia de vidas passadas
Nas ultimas semanas tenho feito uma terapia de vidas passadas, recomendada por uma grande amiga. Esta terapia é no modelo descrito pelo psiquiatra Brian Weiss no livro “Many lives, many masters”.
Sabari (a terapeuta) tem me ajudado a refletir sobre pontos muito importantes na minha vida. Seguem aqui alguns.
Acreditar que o universo te da o que você precisa em cada momento. Esta é uma grande lição de aceitação para mim. Cada momento é perfeito tal como ele é. O universo se encarrega de te dar o que você precisa ter.
Todo mundo tem uma lição a aprender na vida. Cada um tem uma lição. Estar no “flow” é “caminhar” na sua lição.
Compaixão: o outro sou eu. Quando eu quebro a percepção de que eu sou “um” e os outros são “outros”, coisas maravilhosas acontecem. Somos todos o mesmo, viemos do mesmo e voltaremos ao mesmo. Compaixão é a consequência de entender e aplicar essa visão. Dar e criar espaço para os outros, entender que todos têm limitações, é estender aquele braço, se manter aberto e receptivo ao outro. Sempre.
Medo e avareza param seu estado de flow. Medo é um apego a forma e a impossibilidade de “deixar fluir”. Querer mais para “ter mais” para “ser mais” também. A solução? Se jogar guiado pela sua intuição, acreditando que o universo te da o que você precisa.
Seguir seus sonhos e paixões. Ir onde a sua alma quer que você vá. Na ausência do medo, fluímos.
Não julgar os outros. O preto só existe porque vemos o branco. Tudo é relativo.
Permanecer triste é uma escolha. Em essência somos todos alegres. Viemos da alegria e para a alegria sempre voltaremos.
Deixe o ego ir embora. Toda identificação com a forma é uma ilusão. No hinduísmo, isso é magnificamente representado por “Brahma” – o Deus que criou o universo. Disse-se que na tríade dos deuses hinduístas, “Brahma” é o menos “evoluído” já que deu forma ao que não tem forma e a ela se prende. Na pratica, estamos preso a forma. Mas devemos cultivar a pratica que tudo vai alem dela.
Seja honesto consigo mesmo. Sabe aquele amigo que te irrita tanto? Talvez seja hora de olhar para si próprio que o motivo dele te irritar também esta em você. Sem honestidade, não tem crescimento.
Abrace suas imperfeições e ame a si próprio. No final do dia, todos queremos “pertencer”, “ser amados”, “compartilhar” e nos “expandir” como indivíduos. Somos imperfeitos e por isso estamos aqui. Para viver e aprender uma lição. O amor deve ser incondicional. Sou perfeito como devo ser. Mas vale lembrar que esse ponto traz grande liberdade, mas também grandes responsabilidades. Como sou do jeito que sou, mas não perco de vista o impacto da minha ação sobre os outros? Talvez compaixão seja a resposta.
sábado, 14 de abril de 2012
O caminho a se seguir
Esta semana temos feito varias entrevistas na Unltd India. Lancamos um processo para selecionar uma pessoa para liderar o Bombay Connect (antes chamado de Bombay HUB). Em geral, buscamos alguem com perfil bastante empreendedor, que tenha tido experiencias empreendendo, entenda de desenvolvimento de produtos, financas e que possa levar o Bombay Connect ao break-even este ano.
Fizemos isso no formato de uma competicao e conseguimos quase 30 candidatos! Pessoas com perfis muito diferentes, gente que trabalhou 10 anos com comunicacao em canais de TV ou em fundacoes de responsabilidade social, empreendedores em serie que ja lancaram varias organizacoes em diferentes modelos de negocios sociais e ate um senhor de 80 anos que confundiu o processo - e veio interessado em fazer tratamento de acunpuntura com a gente!
Foi uma experiencia bacana. Conversar com estas pessoas incriveis, conhecer suas historias e aprendizados de vida. Principalmente porque neste processo, alem das competencias tecnicas, estavamos muito interessados em conhecer os valores destas pessoas e seu momento de vida, visao de futuro.
Termino esta semana refletindo sobre algumas coisas. Como tem tanta gente no mundo que nao faz o que ama, nao e? Parece uma epidemia. E como tem gente que nem faz ideia do que ama. Parte dos empreendedores entrevistados eram pessoas frustradas por terem escolhidos caminhos na vida das quais elas nao tinham pleno orgulho ou paixao. E outra parte eram pessoas incriveis que buscaram criar espacos para seus proprios sonhos e criando estes espacos, permitiram que outras pessoas tambem passassem pelo mesmo caminho.
Pessoas que entendem que amar, fazer o que se acredita e seguir intuicao sao caracteristicas naturais em todos nos, mas que nem sempre sao caminhos faceis em uma sociedade que valoriza tantas experiencias inautenticas. Ainda assim, pessoas que entendem que apesar de tudo, nao existe outro caminho a se seguir.
Fizemos isso no formato de uma competicao e conseguimos quase 30 candidatos! Pessoas com perfis muito diferentes, gente que trabalhou 10 anos com comunicacao em canais de TV ou em fundacoes de responsabilidade social, empreendedores em serie que ja lancaram varias organizacoes em diferentes modelos de negocios sociais e ate um senhor de 80 anos que confundiu o processo - e veio interessado em fazer tratamento de acunpuntura com a gente!
Foi uma experiencia bacana. Conversar com estas pessoas incriveis, conhecer suas historias e aprendizados de vida. Principalmente porque neste processo, alem das competencias tecnicas, estavamos muito interessados em conhecer os valores destas pessoas e seu momento de vida, visao de futuro.
Termino esta semana refletindo sobre algumas coisas. Como tem tanta gente no mundo que nao faz o que ama, nao e? Parece uma epidemia. E como tem gente que nem faz ideia do que ama. Parte dos empreendedores entrevistados eram pessoas frustradas por terem escolhidos caminhos na vida das quais elas nao tinham pleno orgulho ou paixao. E outra parte eram pessoas incriveis que buscaram criar espacos para seus proprios sonhos e criando estes espacos, permitiram que outras pessoas tambem passassem pelo mesmo caminho.
Pessoas que entendem que amar, fazer o que se acredita e seguir intuicao sao caracteristicas naturais em todos nos, mas que nem sempre sao caminhos faceis em uma sociedade que valoriza tantas experiencias inautenticas. Ainda assim, pessoas que entendem que apesar de tudo, nao existe outro caminho a se seguir.
sábado, 17 de março de 2012
Uma de minhas paixões
Essa semana postei um vídeo lindo no facebook chamado Namaste India. O vídeo me fez delirar nas experiências que tive, que vi e ate as que inventei na India! Que país fantástico, meu Deus! Às vezes – alias, bem freqüentemente – sinto como se estivesse trazendo o mundo que esta dentro de mim para fora. E ao mesmo tempo, não estou. Porque a India também limita.
Quantas experiências fantásticas e autenticas e passageiras. E ainda mais belas por serem passageiras. Na India, percebi e vi que nada dura para sempre e ao mesmo tempo, tudo dura para sempre. Encontrei pessoas com uma visão de mundo tão diferente da minha, que aceitar o diferente se tornou natural. A India me ensinou que não precisamos entender para aceitar e deixar “ir”.
Encontrei pessoas tão apaixonadas e em um “mundo” tão autentico e individual. Como a austríaca que morava em um templo dourado – Meca dos Sikhs, em uma cidade na fronteira com o Paquistão. Ela estava morando em um quarto minúsculo dividido com outros turistas que vinham e iam – e ela ficava. Pois estava fazendo uma pesquisa de doutorado sobre “o papel da mulher na religião sikhista”. A paixão que eu vi nos olhos dela foi algo indescritível.
E as experiências? Às vezes nos deixando de boca aberta, quase sempre aleatórias, às vezes difíceis e sempre engraçadas. Sempre rindo de nos mesmos. Como quando corremos atrás de um trem em Mumbai e acabamos entrando no compartimento do maquinista! E mais, ele deixou a gente dirigir o trem! Dirigir um trem que corta uma cidade de 20 milhões de pessoas com milhares de passageiros! Ou quando o Gustavo parou no caminho da maior celebridade de Bollywood e os seguranças do super ator fizeram questão de tirar o Gustavo do caminho – só vi Gustavo “voando” na minha frente! Hahahaha Ou quando nos perdemos numa floresta nos Himalaias – e acabamos encontrando uma escola tibetana, paramos para pedir informação e surpresa! Era uma escola de ensino médio e naquela noite todas as famílias tibetanas tinham vindo a escola prestigiar apresentações musicais dos filhos. Sentamos, assistimos. Aquele dia me emocionei e chorei. Emocionado por ver uma mistura de culturas do Tibete e da India acontecendo na minha frente – sabendo que eram todas famílias de refugiados da China. E por ver a gratidão deles pela India te-los recebido e ao mesmo tempo, eles também já eram ‘India’.
Boca aberta quando via o motorista da TATA me trazendo do trabalho todo dia as 4 da manha depois dos meus expedientes noturnos. E todo dia ele estava la, e todo dia ele dormia no carro. Alucinado de sentar de frente ao Taj Mahal ou aos fortes do Rajastao e imaginar: como tanta beleza e possível?
Ah, Namaste India.
terça-feira, 13 de março de 2012
Vontade de fazer
Essa semana lendo um artigo no blog da Harvard Business Review, publicacao pela qual sou apaixonado, me dei conta de algumas coisas que acredito e tenho tentado diariamente colocar em pratica na minha vida.
Por varias vezes, tenho ouvido pessoas falarem de 'forca individual' - essa energia, este poder que sentimos quando queremos fazer algo grande, com significado. E nossa! - quantas pedras pelo caminho! Tenho lido tantos livros e conversado com tantas pessoas sobre este tema. E nao tem outro jeito. A conclusao ja e algo que sempre soube. E talvez como seres humanos, sempre soubemos: e preciso coragem.
Gosto da definicao que a Brene Brown tem para a palavra "coragem", com origem no latim (cor - coracao em latim) - a palavra signifca "falar o que vem a mente na medida em que se conta o que esta no coracao".
Podemos procurar respostas no mundo inteiro, ler quantos livros quisermos - mas as respostas - por mais cliche que pareca - nos ja conhecemos. E vamos responder. E vamos responder errado e certo. No final das contas, o caminho tem que ser de grande coragem, grande intuicao e auto-confianca. Auto-respeito e amor. A crenca de que voce tem o direito de pensar como pensa e que por tras de tudo existe uma razao e uma licao a ser aprendida.
Questionar a vida e ao mesmo tempo ter a certeza de que voce pode imaginar o mundo. O seu mundo. Da forma como quiser que ele seja.
Na materia de Harvard, as entrevistas nao poderiam ser mais inspiradoras. Como a admiravel audacia do historico bailarino Mikhail Baryshnikov em dizer que:
Para cultivar criativadade, ele "olha o que os outros estao fazendo e teimosamente caminha em direcao oposta".
Ou a licao do diretor Francis Ford Coppola sobre seguir a propria intuicao em assumir que "as razoes pelas quais voce e demitido quando e novo sao as mesmas pelas quais voce recebe grandes premios quando envelhece". E que "se seu instinto te diz algo diferente, voce deve tentar uma chance".
As pessoas tem grandes experiencias para compartilhar na vida. Grandes licoes. E eu me pergunto - onde estao os espacos para isso acontecer?
Onde posso aprender a ser menos egoista? A ser mais autentico? A me amar com forca? A seguir minha intuicao? Grandes mudancas sao preciso.
Por varias vezes, tenho ouvido pessoas falarem de 'forca individual' - essa energia, este poder que sentimos quando queremos fazer algo grande, com significado. E nossa! - quantas pedras pelo caminho! Tenho lido tantos livros e conversado com tantas pessoas sobre este tema. E nao tem outro jeito. A conclusao ja e algo que sempre soube. E talvez como seres humanos, sempre soubemos: e preciso coragem.
Gosto da definicao que a Brene Brown tem para a palavra "coragem", com origem no latim (cor - coracao em latim) - a palavra signifca "falar o que vem a mente na medida em que se conta o que esta no coracao".
Podemos procurar respostas no mundo inteiro, ler quantos livros quisermos - mas as respostas - por mais cliche que pareca - nos ja conhecemos. E vamos responder. E vamos responder errado e certo. No final das contas, o caminho tem que ser de grande coragem, grande intuicao e auto-confianca. Auto-respeito e amor. A crenca de que voce tem o direito de pensar como pensa e que por tras de tudo existe uma razao e uma licao a ser aprendida.
Questionar a vida e ao mesmo tempo ter a certeza de que voce pode imaginar o mundo. O seu mundo. Da forma como quiser que ele seja.
Na materia de Harvard, as entrevistas nao poderiam ser mais inspiradoras. Como a admiravel audacia do historico bailarino Mikhail Baryshnikov em dizer que:
Para cultivar criativadade, ele "olha o que os outros estao fazendo e teimosamente caminha em direcao oposta".
Ou a licao do diretor Francis Ford Coppola sobre seguir a propria intuicao em assumir que "as razoes pelas quais voce e demitido quando e novo sao as mesmas pelas quais voce recebe grandes premios quando envelhece". E que "se seu instinto te diz algo diferente, voce deve tentar uma chance".
As pessoas tem grandes experiencias para compartilhar na vida. Grandes licoes. E eu me pergunto - onde estao os espacos para isso acontecer?
Onde posso aprender a ser menos egoista? A ser mais autentico? A me amar com forca? A seguir minha intuicao? Grandes mudancas sao preciso.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Amor próprio
Ah vulnerabilidade! Quando eu saí do Brasil em dezembro passado, trouxe na minha mala um livro chamado “Os Presentes da Imperfeição”. Na capa, a autora escreveu o seguinte desafio ao leitor:
Deixe de ser quem você pensa que deveria ser e abrace quem você é.
E ainda desafia o leitor a pensar:
Tornar-nos donos da nossa historia e ao mesmo tempo nos amar neste processo é a coisa mais corajosa que jamais faremos.
A leitura foi muito gostosa, entre uma paisagem e outra na África do Sul ou uma pessoa e outra que eu conhecia – fui lendo. Deitado na praia, comendo peixe no restaurante, viajando de carro. Mal sabia eu que a vulnerabilidade maior ainda me esperava – estava mais adiante: quando eu saísse da África e chegasse à Índia.
Eu sempre fiz o papel de “terapeuta” com muitos amigos. Ouvindo, questionando, dando sugestões. Mas acho que chegou a hora de me encarar no espelho. Bonito isso, né? Tenho percebido nos últimos anos que alguns padrões da minha personalidade sempre se repetem. E alguns deles me dão boas rasteiras.
No livro, a autora fala sobre vulnerabilidade e apresenta, por exemplo, a idéia de que o quanto conhecemos e entendemos a nos mesmos é muito importante, mas existe algo que é ainda mais essencial para uma vida equilibrada e completa de coração: amar a si próprio.
Essa idéia é muito boa. Pois indica que viver “de coração” envolve tanto “abraçar” nossas vulnerabilidades e desenvolver autoconhecimento quanto também saber “pedir” e “assumir” seu poder. Esta jornada é difícil e envolve um exercício de saber mais como “eu me sinto” e menos “o que o outro pensa”.
Traduzo aqui algumas partes do livro como a definição da autora de amor:
Cultivo amor quando permito ao meu poderoso e vulnerável “eu” ser profundamente visto e conhecido, e quando honro a conexão espiritual que cresce a partir dessa oferta com respeito, carinho e afeto.
O amor não é algo que dou ou recebo; é algo que cultivo e cresce; uma conexão que só pode existir entre duas pessoas quando existe em cada uma delas – só posso amar aos outros quando amo a mim mesmo.
Vergonha, culpa, desrespeito, traição e não-afeição danificam as “raízes” das quais o amor cresce. O amor só pode sobreviver esses “machucados” se eles forem reconhecidos, curados e raros.
E a carta que a autora recebeu de um leitor:
Certamente, as pessoas que amamos nos inspiram a ir às alturas do amor e da compaixão – as quais nunca atingiríamos de outras maneiras. Mas para realmente escalar estas “alturas”, freqüentemente precisamos ir às profundezas de quem somos: luz/ sombra, bom/mau, amor/ destruição. E entender nossas próprias questões para amar melhor os outros. Chegamos a amar os outros de maneira muito intensa, talvez mais do que pensamos amar a nos mesmos – mas este amor intenso deve nos servir para chegar às profundezas de nos mesmos de maneira que possamos aprender a ter compaixão consigo próprio.
Uma musica para alegrar seu dia - direto das "paradas" indianas ;)
Why this Kolaveri di?
Deixe de ser quem você pensa que deveria ser e abrace quem você é.
E ainda desafia o leitor a pensar:
Tornar-nos donos da nossa historia e ao mesmo tempo nos amar neste processo é a coisa mais corajosa que jamais faremos.
A leitura foi muito gostosa, entre uma paisagem e outra na África do Sul ou uma pessoa e outra que eu conhecia – fui lendo. Deitado na praia, comendo peixe no restaurante, viajando de carro. Mal sabia eu que a vulnerabilidade maior ainda me esperava – estava mais adiante: quando eu saísse da África e chegasse à Índia.
Eu sempre fiz o papel de “terapeuta” com muitos amigos. Ouvindo, questionando, dando sugestões. Mas acho que chegou a hora de me encarar no espelho. Bonito isso, né? Tenho percebido nos últimos anos que alguns padrões da minha personalidade sempre se repetem. E alguns deles me dão boas rasteiras.
No livro, a autora fala sobre vulnerabilidade e apresenta, por exemplo, a idéia de que o quanto conhecemos e entendemos a nos mesmos é muito importante, mas existe algo que é ainda mais essencial para uma vida equilibrada e completa de coração: amar a si próprio.
Essa idéia é muito boa. Pois indica que viver “de coração” envolve tanto “abraçar” nossas vulnerabilidades e desenvolver autoconhecimento quanto também saber “pedir” e “assumir” seu poder. Esta jornada é difícil e envolve um exercício de saber mais como “eu me sinto” e menos “o que o outro pensa”.
Traduzo aqui algumas partes do livro como a definição da autora de amor:
Cultivo amor quando permito ao meu poderoso e vulnerável “eu” ser profundamente visto e conhecido, e quando honro a conexão espiritual que cresce a partir dessa oferta com respeito, carinho e afeto.
O amor não é algo que dou ou recebo; é algo que cultivo e cresce; uma conexão que só pode existir entre duas pessoas quando existe em cada uma delas – só posso amar aos outros quando amo a mim mesmo.
Vergonha, culpa, desrespeito, traição e não-afeição danificam as “raízes” das quais o amor cresce. O amor só pode sobreviver esses “machucados” se eles forem reconhecidos, curados e raros.
E a carta que a autora recebeu de um leitor:
Certamente, as pessoas que amamos nos inspiram a ir às alturas do amor e da compaixão – as quais nunca atingiríamos de outras maneiras. Mas para realmente escalar estas “alturas”, freqüentemente precisamos ir às profundezas de quem somos: luz/ sombra, bom/mau, amor/ destruição. E entender nossas próprias questões para amar melhor os outros. Chegamos a amar os outros de maneira muito intensa, talvez mais do que pensamos amar a nos mesmos – mas este amor intenso deve nos servir para chegar às profundezas de nos mesmos de maneira que possamos aprender a ter compaixão consigo próprio.
Uma musica para alegrar seu dia - direto das "paradas" indianas ;)
Why this Kolaveri di?
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Os padrões da índia, as desigualdades e a empatia
Recentemente vi uma foto de uma amiga brasileira em que ela está de frente ao Taj Mahal em Agra, na Índia. Isso me fez lembrar de quando a Índia, para mim, ainda era o "desconhecido". Quando trabalhando na AIESEC, eu via fotos, posters, depoimentos de pessoas que tinham vindo para trabalhar na Índia e imaginava: como será? E a maioria das fotos era de frente ao Taj. E o Taj era o "desconhecido". Eu não conseguia imaginar como ele era. A vida é muito curiosa, não é? Este ciclo de “se inspirar, não poder imaginar, tentar e concretizar” é incrível. Concretizar aquilo que não se pode, a principio, imaginar. Hoje, o Taj é uma memória. Hoje, ele é uma historia. Ele é aquilo que ele foi para mim.
Ontem fui a uma festa aleatória (mais uma vez). Um francês postou no facebook, convidou muita gente e abriu as portas de casa. Sem nem saber o nome dele, lá fomos nós! Ele trabalha como engenheiro em Mumbai e depois de construir o metro de Dubai, mudou-se para cá. O metro de Mumbai é uma grande piada. Já está há anos em construção e tudo que parece fazer é atrapalhar o já caótico transito, levantar poeira e fazer barulho. Passa a impressão de que se você voltar daqui a 20 anos, ainda estará em construção. Mas não é exatamente disso que eu quero falar.
Quando as pessoas vêm morar na Índia facilmente se deixam levar ou são arrebatadas pelo caos do país. Tudo parece acontecer de maneira aleatória. Tudo parece surpreendente e imprevisível. Daí resta sair-se com um “é a Índia!” para tentar explicar o que não se entende. Mas morando aqui há quase 2 anos, da para perceber que as coisas não são tão aleatórias e existem sim, padrões que se repetem. Como em qualquer lugar do mundo, a questão é que aqui os padrões são diferentes. As festas “aleatórias” são, por exemplo, um padrão que se repete aqui. Festas em casa (ou em fazendas, em Nova Deli), com muitos estrangeiros, bebidas compartilhadas, Bollywood, indianos “ocidentalizados”, quase ninguém se conhecia antes da festa, todos acham tudo “cool”.
Mas ontem, nessa festa aconteceu algo estranho comigo. Aquilo que antes era aleatório virou comum. E me fez pensar outras coisas. Vou desenvolver a idéia.
Na organização em que eu trabalho tem um indiano – o Mahesh – que é um dos muitos que moram em favelas urbanas. Só em Mumbai, 50% da cidade são favelas. Mas aqui a favela se mistura com a parte rica. Não se vê riqueza sem olhar para lado e ver a pobreza. Ainda assim, a “riqueza” às vezes parece não ser nem um pouco empática. Em Mumbai, por exemplo, está a mansão mais cara do mundo. Cujo custo está na casa dos bilhões de dólares. Chamada de “Antilia”, foi construída pelo multibilionário Mukesh Ambani. A casa tem 27 andares, nove elevadores, estacionamento para 168 carros, 3 heliportos, um quarto com “neve artificial” e um teatro para 50 pessoas. Alem de salas de yoga, academia, etc. Mas acredito que subindo já no décimo andar da casa, a família pode avistar o Dharavi, a segunda maior favela da Ásia – que foi palco do filme “Quem quer ser um milionário”.
"Antilia": 27 andares de falta de empatia
Já o Mahesh, meu colega do trabalho, mora em uma casa de um cômodo com 2 irmãos, pai, mãe, esposa e filho. Isso significa 7 pessoas em um cômodo. Em uma casa que não tem nem banheiro. O que também não é exceção em Mumbai. Se precisar ir ao banheiro, precisa usar o publico compartilhado por parte da favela. Ou usar as linhas do trem. Isso mesmo, as linhas do trem. Mahesh mora do lado de uma estação de trem bem movimentada em Mumbai e passando por la, você facilmente vai ver pessoas fazendo necessidades na linha do trem. Saneamento é uma questão urgente na Índia. E mais, é uma questão de dignidade.
Na festa do francês (ontem), reparei que o Mahesh entrou no clima “filosofando”. Sabe quando a pessoa fica meio melancólica, pensativa? Talvez isso seja porque o francês mora em um apartamento em que, só o aluguel já é o que toda a família do Mahesh ganha em um ano. Um apartamento enorme para apenas uma pessoa morar – algo que, para mim, beira o absurdo em uma cidade como Mumbai. Aqui o espaço físico é um dos maiores luxos. São 20 milhões de pessoas morando em uma ilha abarrotada. Não cabe mais ninguém, não se vê mais casas – apenas prédios. Apesar da pobreza evidente, o real state em Mumbai é um dos mais caros do mundo.
Mahesh comentou comigo que “estar nessa festa, para ele, era uma grande coisa”. E eu consigo imaginar o porquê: quando ele conta a historia da família dele. Avos que vieram de zonas rurais da Índia trazidos para Mumbai para trabalhar limpando as ruas. Algo que no passado, era reservado aqueles da casta mais baixa – os dallits. Mahesh se envolveu cedo com o mundo “ilegal”, freqüentou comunidades de religiões diferentes, se envolveu com imigrantes do Afeganistão em Mumbai. Ate o dia em que decidiu buscar um emprego melhor antes que fosse tarde demais e ele perdesse a vida, em um crime encomendado.
Equipe da Unltd India: captando recursos para investir em negocios que melhoram a qualidade de vida em Mumbai. (Mahesh em verde;)
Com mais alguns drinks na festa, eu ja estava quase convencendo o frances e mudar para uma casa menor, confortavel e investir os 2 mil dolares mensais do aluguel em negocios sociais, apoiados pela Unltd India - organizacao em que trabalho.
Todo mundo vai morrer um dia. Talvez essa verdade seja a base para buscarmos ser mais empaticos. Por que, então, não fazer a vida dos outros mais fácil? Isso é dignidade e respeito com o outro e também consigo mesmo.
Ontem fui a uma festa aleatória (mais uma vez). Um francês postou no facebook, convidou muita gente e abriu as portas de casa. Sem nem saber o nome dele, lá fomos nós! Ele trabalha como engenheiro em Mumbai e depois de construir o metro de Dubai, mudou-se para cá. O metro de Mumbai é uma grande piada. Já está há anos em construção e tudo que parece fazer é atrapalhar o já caótico transito, levantar poeira e fazer barulho. Passa a impressão de que se você voltar daqui a 20 anos, ainda estará em construção. Mas não é exatamente disso que eu quero falar.
Quando as pessoas vêm morar na Índia facilmente se deixam levar ou são arrebatadas pelo caos do país. Tudo parece acontecer de maneira aleatória. Tudo parece surpreendente e imprevisível. Daí resta sair-se com um “é a Índia!” para tentar explicar o que não se entende. Mas morando aqui há quase 2 anos, da para perceber que as coisas não são tão aleatórias e existem sim, padrões que se repetem. Como em qualquer lugar do mundo, a questão é que aqui os padrões são diferentes. As festas “aleatórias” são, por exemplo, um padrão que se repete aqui. Festas em casa (ou em fazendas, em Nova Deli), com muitos estrangeiros, bebidas compartilhadas, Bollywood, indianos “ocidentalizados”, quase ninguém se conhecia antes da festa, todos acham tudo “cool”.
Mas ontem, nessa festa aconteceu algo estranho comigo. Aquilo que antes era aleatório virou comum. E me fez pensar outras coisas. Vou desenvolver a idéia.
Na organização em que eu trabalho tem um indiano – o Mahesh – que é um dos muitos que moram em favelas urbanas. Só em Mumbai, 50% da cidade são favelas. Mas aqui a favela se mistura com a parte rica. Não se vê riqueza sem olhar para lado e ver a pobreza. Ainda assim, a “riqueza” às vezes parece não ser nem um pouco empática. Em Mumbai, por exemplo, está a mansão mais cara do mundo. Cujo custo está na casa dos bilhões de dólares. Chamada de “Antilia”, foi construída pelo multibilionário Mukesh Ambani. A casa tem 27 andares, nove elevadores, estacionamento para 168 carros, 3 heliportos, um quarto com “neve artificial” e um teatro para 50 pessoas. Alem de salas de yoga, academia, etc. Mas acredito que subindo já no décimo andar da casa, a família pode avistar o Dharavi, a segunda maior favela da Ásia – que foi palco do filme “Quem quer ser um milionário”.
"Antilia": 27 andares de falta de empatia
Já o Mahesh, meu colega do trabalho, mora em uma casa de um cômodo com 2 irmãos, pai, mãe, esposa e filho. Isso significa 7 pessoas em um cômodo. Em uma casa que não tem nem banheiro. O que também não é exceção em Mumbai. Se precisar ir ao banheiro, precisa usar o publico compartilhado por parte da favela. Ou usar as linhas do trem. Isso mesmo, as linhas do trem. Mahesh mora do lado de uma estação de trem bem movimentada em Mumbai e passando por la, você facilmente vai ver pessoas fazendo necessidades na linha do trem. Saneamento é uma questão urgente na Índia. E mais, é uma questão de dignidade.
Na festa do francês (ontem), reparei que o Mahesh entrou no clima “filosofando”. Sabe quando a pessoa fica meio melancólica, pensativa? Talvez isso seja porque o francês mora em um apartamento em que, só o aluguel já é o que toda a família do Mahesh ganha em um ano. Um apartamento enorme para apenas uma pessoa morar – algo que, para mim, beira o absurdo em uma cidade como Mumbai. Aqui o espaço físico é um dos maiores luxos. São 20 milhões de pessoas morando em uma ilha abarrotada. Não cabe mais ninguém, não se vê mais casas – apenas prédios. Apesar da pobreza evidente, o real state em Mumbai é um dos mais caros do mundo.
Mahesh comentou comigo que “estar nessa festa, para ele, era uma grande coisa”. E eu consigo imaginar o porquê: quando ele conta a historia da família dele. Avos que vieram de zonas rurais da Índia trazidos para Mumbai para trabalhar limpando as ruas. Algo que no passado, era reservado aqueles da casta mais baixa – os dallits. Mahesh se envolveu cedo com o mundo “ilegal”, freqüentou comunidades de religiões diferentes, se envolveu com imigrantes do Afeganistão em Mumbai. Ate o dia em que decidiu buscar um emprego melhor antes que fosse tarde demais e ele perdesse a vida, em um crime encomendado.
Equipe da Unltd India: captando recursos para investir em negocios que melhoram a qualidade de vida em Mumbai. (Mahesh em verde;)
Com mais alguns drinks na festa, eu ja estava quase convencendo o frances e mudar para uma casa menor, confortavel e investir os 2 mil dolares mensais do aluguel em negocios sociais, apoiados pela Unltd India - organizacao em que trabalho.
Todo mundo vai morrer um dia. Talvez essa verdade seja a base para buscarmos ser mais empaticos. Por que, então, não fazer a vida dos outros mais fácil? Isso é dignidade e respeito com o outro e também consigo mesmo.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Pessoas
Ah, pessoas! Eu sempre me surpreendo e fico emotivo quando penso em quanto estar conectado, conhecer pessoas e compartilhar podem nos inspirar tanto. Eu gosto tanto de "pessoas", de seus problemas, dramas, sentidos, descobertas - gosto tanto que chego a gostar ate de mim mesmo. Devia ter sido psicologo. E muitos que me conhecem dizem que deveria mesmo.
Ah, India. Voce nao cansa de me surpreender, nao e? Quantas pessoas loucas, fantasticas, inspiradoras, dificeis e diferentes ja passaram por mim. Um amigo me disse uma vez que cada pais do mundo recebe um tipo de "pessoa" diferente, tipico daquele lugar. A India abriga cada figura.
Para mim, o melhor de viajar e conhecer pessoas novas. Pessoas que fazem sua mente expandir, abrir e se inspirar para a ideia de que tudo e possivel neste mundo e que, sim, existe um fio que conecta tudo - pessoas, lugares, experiencias. Para consoladora e fantastica ideia de que tudo passa, tudo de bom e de ruim.
Nessa semana, entre dramas de ansiedade, um workshop de "como contar historias" com uma pessoa que "ama contar historias" - ama tanto, que vive o que ama e uma "festa de inauguracao" no meu apartamento em que apareceram 40 pessoas aleatorias, e para ficar mais aleatorio ainda, todos (juntos!) nos mudamos para festa na casa de um espanhol, que ja tinha convidado mais de 100 pessoas. Alguem ai conhece o espanhol? Chegando la encontramos gente de embaixada, consulados, gringos do mundo inteiro, indianos. As 4h da manha, para la de cansado, dormi na cama de um dos quartos. Alguem ai conhece o dono da cama?
Antes disso, aleatoriamente apresentei minha amiga Tanvi (fantastica pessoa, fantastica organizacao - que trabalha captando recursos para milaap - uma plataforma online que permite pessoas do mundo todo fazerem emprestimos a taxa de interesse baixa para projetos de desenvolvimento na India) para umas 10 pessoas diferentes (que eu nao conhecia!) da festa. Chegavamos, conversavamos agrandando a pessoa, descobriamos onde ela trabalhava, o que fazia, em que redes estava conectada e apresentava a ideia da milaap. Isso tudo com uma festa barulhenta de 140 pessoas em um apartamento. Uma festa publicada no facebook. Os donos da casa publicaram, abriram as portas e confiaram que viriam pessoas de bem. E vieram. Pessoas. Ah, pessoas.
Ah, India. Voce nao cansa de me surpreender, nao e? Quantas pessoas loucas, fantasticas, inspiradoras, dificeis e diferentes ja passaram por mim. Um amigo me disse uma vez que cada pais do mundo recebe um tipo de "pessoa" diferente, tipico daquele lugar. A India abriga cada figura.
Para mim, o melhor de viajar e conhecer pessoas novas. Pessoas que fazem sua mente expandir, abrir e se inspirar para a ideia de que tudo e possivel neste mundo e que, sim, existe um fio que conecta tudo - pessoas, lugares, experiencias. Para consoladora e fantastica ideia de que tudo passa, tudo de bom e de ruim.
Nessa semana, entre dramas de ansiedade, um workshop de "como contar historias" com uma pessoa que "ama contar historias" - ama tanto, que vive o que ama e uma "festa de inauguracao" no meu apartamento em que apareceram 40 pessoas aleatorias, e para ficar mais aleatorio ainda, todos (juntos!) nos mudamos para festa na casa de um espanhol, que ja tinha convidado mais de 100 pessoas. Alguem ai conhece o espanhol? Chegando la encontramos gente de embaixada, consulados, gringos do mundo inteiro, indianos. As 4h da manha, para la de cansado, dormi na cama de um dos quartos. Alguem ai conhece o dono da cama?
Antes disso, aleatoriamente apresentei minha amiga Tanvi (fantastica pessoa, fantastica organizacao - que trabalha captando recursos para milaap - uma plataforma online que permite pessoas do mundo todo fazerem emprestimos a taxa de interesse baixa para projetos de desenvolvimento na India) para umas 10 pessoas diferentes (que eu nao conhecia!) da festa. Chegavamos, conversavamos agrandando a pessoa, descobriamos onde ela trabalhava, o que fazia, em que redes estava conectada e apresentava a ideia da milaap. Isso tudo com uma festa barulhenta de 140 pessoas em um apartamento. Uma festa publicada no facebook. Os donos da casa publicaram, abriram as portas e confiaram que viriam pessoas de bem. E vieram. Pessoas. Ah, pessoas.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Gente nova ;)
A primeira semana de trabalho foi para lá de intensa. Conheci muita gente nova, o que me fez - em vários momentos – refletir sobre a minha vida ;) Vim trabalhar com uma incubadora de inovação social: empreendedores que por meio de diferentes modelos de negócios acabam por gerar impacto social. E varias vezes – já nesta primeira semana – fui “convidado” a sair da minha caixinha. “Zona de conforto” é algo que cada vez menos escuto falar. Sabe aquela sensação de você ser “empurrado” contra seus limites e sentir que você precisa crescer? Pois é, virou uma sensação de rotina na Índia.
Os problemas de registro legal na policia, achar casa, fazer amizades,...parecem “coisa pouca” perto dos outros desafios que surgiram. Primeiro uma lição de contexto: às vezes me assusto com a idéia de que “pedi demissão do meu emprego formal em SP, estou na Índia, vim trabalhar nessa megalópole de 20 milhões de pessoas, 50% de favelas em um novo conceito de ‘rede’ que diz que haverá uma transformação nas formas de trabalho – ou seja, estamos saindo de um padrão fechado de hierarquias corporativas para redes colaborativas – em que os relacionamentos e o impacto do nosso trabalho valem tanto quanto o dinheiro gerado”. Uma viagem? Talvez, mas certamente baseado em uma teoria muito forte e que, sim, eu acredito ser verdadeira.
Durante essa semana tive a oportunidade de conhecer muita gente. O que eu valorizo profundamente e ao mesmo tempo me coloca a pensar: “então, o que faço agora de toda essa rede?”. Daí, surgem as angustias. O espaço em que eu trabalho – O HUB de Mumbai – realiza muitas eventos como forma de networking entre empreendedores, de divulgação do espaço, trazer gente nova. Somado a isso, todo esse setor - empreendedores sociais, fundações, consultores, universidades de Mumbai que já se conhecem “entre eles” – são novos para mim. A Índia recebe muita atuação estrangeira de fundações, conta com um numero absurdo de ONGs, algumas grandes referencias de negócios sociais e poucas incubadoras de empreendimentos – encontrei muitas dessas pessoas nesta semana.
Na ultima segunda-feira, o HUB Mumbai abriu as portas para externos com vários eventos voltados a gestão de negócios sociais. Conheci a americana responsável pelas operações da Acumen Fund na Índia – sabe aquele “dream job”? Eles fizeram um workshop no HUB sobre as operações e os investimentos feitos pela Acumen no mundo e trouxeram estudantes de MBAs de faculdades americanas. Também encontrei um engenheiro que acabou de passar por um câncer e deseja iniciar um projeto voltado a conscientização de câncer – algo inédito na Índia. Mulheres que trabalham com homens para reforçar o papel feminino na sociedade indiana. Reencontrei pessoas que passaram pelo time global da AIESEC e agora estão em organizações como o HUB company e incubadoras de empreendedorismo na Índia. Um encontro marcante foi também o que tive com minha nova chefe. De fato, uma pessoa inspiradora. Aquele tipo de pessoa que te “empurra” para ser melhor, que te tira da zona de conforto a cada interação. Algo que, às vezes, se revela desagradável – mas que, no fim das contas, sou grato por saber reconhecer o valor.
E como isso tem feito sentido para mim. Aliás, como faz sentido ter um trabalho que faz sentido. Nada é fácil na vida e muitas vezes estamos “presos” em contextos muito maiores do que nós. O que já me fez refletir que o sucesso assim como o fracasso são apenas acidentes de percurso. Pensar em visões maiores do que nosso próprio ego talvez seja um dos maiores desafios de ser humano. Significa que se tudo der certo ou errado, você ainda é maior do que aquilo. E algo maior do que você busca seu próprio sentido. Significa reconhecer o quanto somos inocentes, ter auto-respeito, compaixão e muita paciência consigo, e com os outros. Significa se lembrar de que no fundo sabemos o que deve ser feito e questionar: por que então não fazemos? Significa a cada dia, olhar para aquilo que faz sentido, para a razão de estar onde estamos e nos relembrar, assim como faz o padre na missa, da atitude correta que devemos tomar.
Os problemas de registro legal na policia, achar casa, fazer amizades,...parecem “coisa pouca” perto dos outros desafios que surgiram. Primeiro uma lição de contexto: às vezes me assusto com a idéia de que “pedi demissão do meu emprego formal em SP, estou na Índia, vim trabalhar nessa megalópole de 20 milhões de pessoas, 50% de favelas em um novo conceito de ‘rede’ que diz que haverá uma transformação nas formas de trabalho – ou seja, estamos saindo de um padrão fechado de hierarquias corporativas para redes colaborativas – em que os relacionamentos e o impacto do nosso trabalho valem tanto quanto o dinheiro gerado”. Uma viagem? Talvez, mas certamente baseado em uma teoria muito forte e que, sim, eu acredito ser verdadeira.
Durante essa semana tive a oportunidade de conhecer muita gente. O que eu valorizo profundamente e ao mesmo tempo me coloca a pensar: “então, o que faço agora de toda essa rede?”. Daí, surgem as angustias. O espaço em que eu trabalho – O HUB de Mumbai – realiza muitas eventos como forma de networking entre empreendedores, de divulgação do espaço, trazer gente nova. Somado a isso, todo esse setor - empreendedores sociais, fundações, consultores, universidades de Mumbai que já se conhecem “entre eles” – são novos para mim. A Índia recebe muita atuação estrangeira de fundações, conta com um numero absurdo de ONGs, algumas grandes referencias de negócios sociais e poucas incubadoras de empreendimentos – encontrei muitas dessas pessoas nesta semana.
Na ultima segunda-feira, o HUB Mumbai abriu as portas para externos com vários eventos voltados a gestão de negócios sociais. Conheci a americana responsável pelas operações da Acumen Fund na Índia – sabe aquele “dream job”? Eles fizeram um workshop no HUB sobre as operações e os investimentos feitos pela Acumen no mundo e trouxeram estudantes de MBAs de faculdades americanas. Também encontrei um engenheiro que acabou de passar por um câncer e deseja iniciar um projeto voltado a conscientização de câncer – algo inédito na Índia. Mulheres que trabalham com homens para reforçar o papel feminino na sociedade indiana. Reencontrei pessoas que passaram pelo time global da AIESEC e agora estão em organizações como o HUB company e incubadoras de empreendedorismo na Índia. Um encontro marcante foi também o que tive com minha nova chefe. De fato, uma pessoa inspiradora. Aquele tipo de pessoa que te “empurra” para ser melhor, que te tira da zona de conforto a cada interação. Algo que, às vezes, se revela desagradável – mas que, no fim das contas, sou grato por saber reconhecer o valor.
E como isso tem feito sentido para mim. Aliás, como faz sentido ter um trabalho que faz sentido. Nada é fácil na vida e muitas vezes estamos “presos” em contextos muito maiores do que nós. O que já me fez refletir que o sucesso assim como o fracasso são apenas acidentes de percurso. Pensar em visões maiores do que nosso próprio ego talvez seja um dos maiores desafios de ser humano. Significa que se tudo der certo ou errado, você ainda é maior do que aquilo. E algo maior do que você busca seu próprio sentido. Significa reconhecer o quanto somos inocentes, ter auto-respeito, compaixão e muita paciência consigo, e com os outros. Significa se lembrar de que no fundo sabemos o que deve ser feito e questionar: por que então não fazemos? Significa a cada dia, olhar para aquilo que faz sentido, para a razão de estar onde estamos e nos relembrar, assim como faz o padre na missa, da atitude correta que devemos tomar.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Mumbai
Sou grato pelo feijão! Só Deus sabe quanto tempo eu levei para descobrir que havia feijão na Índia! Não adianta dizer que era só ir olhar no supermercado. Aliás, só Deus sabe quanto tempo demorei a descobrir um supermercado por aqui. Essa é a Índia. Esta tem sido a minha Índia.
Lembro de poucos meses atrás quando andava na altura do Shopping Eldorado, na Av. Rebouças em São Paulo, depois de um café com uma “empresária” do setor social brasileiro – se é que posso apresentá-la assim – refletindo sobre o que ela me falou: que “eu deveria buscar uma experiência mais empreendedora”. Ela trabalhava para a Ashoka (organização que “fundou” o termo “empreendedorismo social”) e cuidava do relacionamento da Ashoka com uma grande consultoria empresarial. Coisa bacana. Alto nível. E putz! Será que eu não era empreendedor?
Enfim, andando pela rua imaginei voltar à Índia e trabalhar para a Unltd – uma organização que incuba empreendedores sociais, dando a eles investimento financeiro, suporte em gestão e um espaço de “inovação social” – o HUB. Quando conheci o trabalho deles em 2010, imaginei:
- Que idéia massa eles tem! E seria massa se eu fizesse parte disso!
Sabe aqueles pensamentos deste tipo: “opa, vamos lá!”? Bem, muito cuidado com estes pensamentos. Em caso de repetição, podem acabar se tornando realidade. Veja o exemplo do meu caso: poucos meses depois e onde estou? Na varanda do meu novo apartamento no coração (coração porque está justamente no meio) de Mumbai ou Bombaim, na Índia. Chegar até aqui parece simples, não é? Mas juro que não foi. Pelo menos não senti ter sido.
Luzes nas "estrelas" da nova varanda: esperanca e companhia noturna
Varanda durante o dia: nevoa e criancas jogando criquete
O trabalho da Unltd é irado! Uma semana por aqui e minha impressão não mudou – aliás, melhorou! De primeira vista, encontrei pessoas muito engajadas, conectadas com o propósito e bem preparadas – centradas, pés no chão e mãos na massa. Em poucos anos, conseguiram captar bastante dinheiro e estão investindo e aprendendo a investir em empreendedores que operam negócios sociais em uma realidade tão complexa como a Índia – em que os meios de comunicação, os canais de venda, as razoes de compra: tudo parece ser questionado.
Faz apenas uma semana que cheguei – e não me sinto mais “empolgado” para falar das diferenças culturais na Índia – afinal, esta é a terceira vez que volto aqui! Mas sim, as mulheres continuam de sáris, os trens abarrotados, a poeira cobrindo a cidade, os casamentos arranjados,... Isto tudo de pano de fundo. Porque meu olhar mudou o foco. Quero aprender sobre este setor social e sobre pessoas que, apesar de muitas dificuldades, vem iniciando seu próprio negocio em um contexto tão complexo.
Todo dia preciso me lembrar dessa visão, desse desejo – que “moveu” meus dias e meses em São Paulo. Porque amigo, não é fácil. A sujeira tem me incomodado. Sabe o que é uma nevoa branca cobrir a cidade e às 8h da manha, você mal conseguir ver o prédio do vizinho? E daí, não falo nem só sobre “ver”, falo de “respirar” mesmo. Sabe o que é ficar em uma casa de amigos estrangeiros em que tem “baratas dentro da geladeira” e eles falarem “ já to acostumado, é a Índia!” Sabe o que é você procurar um apartamento e todos os prédios parecerem que “uma bomba caiu bem em cima”? Daí você pergunta: Jesus, ninguém reforma casa nesse país? Sabe o que é você precisar de 474890549038 documentos para se registrar perante a burocracia do governo indiano?
Enfim, fácil não vou dizer que é.
Consegui uma casa – depois de certo indevido sufoco. Estou dividindo apartamento com uma americana de origem indiana (significa: nascida nos EUA, de pais indianos). Este “grupo” de indianos “nascidos no exterior” merece um capitulo a parte nesse blog! Por agora vou focar no apartamento, que para lá de sujo tem tirado minhas noites depois do trabalho a: pintar janela, lavar o chão da casa, jogar baldes e baldes de lixo fora, e ainda – cuidar de um gato! Que também merece um capitulo a parte. Por agora, vale dizer que é um gato preguiçoso, que não sabe se virar, mia a noite toda e que a dona (minha colega de apartamento) não cuida. Então, eu - no meu ódio - sou capaz de jogar um balde de água gelada nele e logo em seguida, sentir compaixão depois de vê-lo sem comer nada pelo dia todo.
Enfim, achar feijão não é fácil.
Livros no HUB Mumbai
Sala de reunioes
jardim organico
Lembro de poucos meses atrás quando andava na altura do Shopping Eldorado, na Av. Rebouças em São Paulo, depois de um café com uma “empresária” do setor social brasileiro – se é que posso apresentá-la assim – refletindo sobre o que ela me falou: que “eu deveria buscar uma experiência mais empreendedora”. Ela trabalhava para a Ashoka (organização que “fundou” o termo “empreendedorismo social”) e cuidava do relacionamento da Ashoka com uma grande consultoria empresarial. Coisa bacana. Alto nível. E putz! Será que eu não era empreendedor?
Enfim, andando pela rua imaginei voltar à Índia e trabalhar para a Unltd – uma organização que incuba empreendedores sociais, dando a eles investimento financeiro, suporte em gestão e um espaço de “inovação social” – o HUB. Quando conheci o trabalho deles em 2010, imaginei:
- Que idéia massa eles tem! E seria massa se eu fizesse parte disso!
Sabe aqueles pensamentos deste tipo: “opa, vamos lá!”? Bem, muito cuidado com estes pensamentos. Em caso de repetição, podem acabar se tornando realidade. Veja o exemplo do meu caso: poucos meses depois e onde estou? Na varanda do meu novo apartamento no coração (coração porque está justamente no meio) de Mumbai ou Bombaim, na Índia. Chegar até aqui parece simples, não é? Mas juro que não foi. Pelo menos não senti ter sido.
Luzes nas "estrelas" da nova varanda: esperanca e companhia noturna
Varanda durante o dia: nevoa e criancas jogando criquete
O trabalho da Unltd é irado! Uma semana por aqui e minha impressão não mudou – aliás, melhorou! De primeira vista, encontrei pessoas muito engajadas, conectadas com o propósito e bem preparadas – centradas, pés no chão e mãos na massa. Em poucos anos, conseguiram captar bastante dinheiro e estão investindo e aprendendo a investir em empreendedores que operam negócios sociais em uma realidade tão complexa como a Índia – em que os meios de comunicação, os canais de venda, as razoes de compra: tudo parece ser questionado.
Faz apenas uma semana que cheguei – e não me sinto mais “empolgado” para falar das diferenças culturais na Índia – afinal, esta é a terceira vez que volto aqui! Mas sim, as mulheres continuam de sáris, os trens abarrotados, a poeira cobrindo a cidade, os casamentos arranjados,... Isto tudo de pano de fundo. Porque meu olhar mudou o foco. Quero aprender sobre este setor social e sobre pessoas que, apesar de muitas dificuldades, vem iniciando seu próprio negocio em um contexto tão complexo.
Todo dia preciso me lembrar dessa visão, desse desejo – que “moveu” meus dias e meses em São Paulo. Porque amigo, não é fácil. A sujeira tem me incomodado. Sabe o que é uma nevoa branca cobrir a cidade e às 8h da manha, você mal conseguir ver o prédio do vizinho? E daí, não falo nem só sobre “ver”, falo de “respirar” mesmo. Sabe o que é ficar em uma casa de amigos estrangeiros em que tem “baratas dentro da geladeira” e eles falarem “ já to acostumado, é a Índia!” Sabe o que é você procurar um apartamento e todos os prédios parecerem que “uma bomba caiu bem em cima”? Daí você pergunta: Jesus, ninguém reforma casa nesse país? Sabe o que é você precisar de 474890549038 documentos para se registrar perante a burocracia do governo indiano?
Enfim, fácil não vou dizer que é.
Consegui uma casa – depois de certo indevido sufoco. Estou dividindo apartamento com uma americana de origem indiana (significa: nascida nos EUA, de pais indianos). Este “grupo” de indianos “nascidos no exterior” merece um capitulo a parte nesse blog! Por agora vou focar no apartamento, que para lá de sujo tem tirado minhas noites depois do trabalho a: pintar janela, lavar o chão da casa, jogar baldes e baldes de lixo fora, e ainda – cuidar de um gato! Que também merece um capitulo a parte. Por agora, vale dizer que é um gato preguiçoso, que não sabe se virar, mia a noite toda e que a dona (minha colega de apartamento) não cuida. Então, eu - no meu ódio - sou capaz de jogar um balde de água gelada nele e logo em seguida, sentir compaixão depois de vê-lo sem comer nada pelo dia todo.
Enfim, achar feijão não é fácil.
Livros no HUB Mumbai
Sala de reunioes
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