Sou grato pelo feijão! Só Deus sabe quanto tempo eu levei para descobrir que havia feijão na Índia! Não adianta dizer que era só ir olhar no supermercado. Aliás, só Deus sabe quanto tempo demorei a descobrir um supermercado por aqui. Essa é a Índia. Esta tem sido a minha Índia.
Lembro de poucos meses atrás quando andava na altura do Shopping Eldorado, na Av. Rebouças em São Paulo, depois de um café com uma “empresária” do setor social brasileiro – se é que posso apresentá-la assim – refletindo sobre o que ela me falou: que “eu deveria buscar uma experiência mais empreendedora”. Ela trabalhava para a Ashoka (organização que “fundou” o termo “empreendedorismo social”) e cuidava do relacionamento da Ashoka com uma grande consultoria empresarial. Coisa bacana. Alto nível. E putz! Será que eu não era empreendedor?
Enfim, andando pela rua imaginei voltar à Índia e trabalhar para a Unltd – uma organização que incuba empreendedores sociais, dando a eles investimento financeiro, suporte em gestão e um espaço de “inovação social” – o HUB. Quando conheci o trabalho deles em 2010, imaginei:
- Que idéia massa eles tem! E seria massa se eu fizesse parte disso!
Sabe aqueles pensamentos deste tipo: “opa, vamos lá!”? Bem, muito cuidado com estes pensamentos. Em caso de repetição, podem acabar se tornando realidade. Veja o exemplo do meu caso: poucos meses depois e onde estou? Na varanda do meu novo apartamento no coração (coração porque está justamente no meio) de Mumbai ou Bombaim, na Índia. Chegar até aqui parece simples, não é? Mas juro que não foi. Pelo menos não senti ter sido.
Luzes nas "estrelas" da nova varanda: esperanca e companhia noturna
Varanda durante o dia: nevoa e criancas jogando criquete
O trabalho da Unltd é irado! Uma semana por aqui e minha impressão não mudou – aliás, melhorou! De primeira vista, encontrei pessoas muito engajadas, conectadas com o propósito e bem preparadas – centradas, pés no chão e mãos na massa. Em poucos anos, conseguiram captar bastante dinheiro e estão investindo e aprendendo a investir em empreendedores que operam negócios sociais em uma realidade tão complexa como a Índia – em que os meios de comunicação, os canais de venda, as razoes de compra: tudo parece ser questionado.
Faz apenas uma semana que cheguei – e não me sinto mais “empolgado” para falar das diferenças culturais na Índia – afinal, esta é a terceira vez que volto aqui! Mas sim, as mulheres continuam de sáris, os trens abarrotados, a poeira cobrindo a cidade, os casamentos arranjados,... Isto tudo de pano de fundo. Porque meu olhar mudou o foco. Quero aprender sobre este setor social e sobre pessoas que, apesar de muitas dificuldades, vem iniciando seu próprio negocio em um contexto tão complexo.
Todo dia preciso me lembrar dessa visão, desse desejo – que “moveu” meus dias e meses em São Paulo. Porque amigo, não é fácil. A sujeira tem me incomodado. Sabe o que é uma nevoa branca cobrir a cidade e às 8h da manha, você mal conseguir ver o prédio do vizinho? E daí, não falo nem só sobre “ver”, falo de “respirar” mesmo. Sabe o que é ficar em uma casa de amigos estrangeiros em que tem “baratas dentro da geladeira” e eles falarem “ já to acostumado, é a Índia!” Sabe o que é você procurar um apartamento e todos os prédios parecerem que “uma bomba caiu bem em cima”? Daí você pergunta: Jesus, ninguém reforma casa nesse país? Sabe o que é você precisar de 474890549038 documentos para se registrar perante a burocracia do governo indiano?
Enfim, fácil não vou dizer que é.
Consegui uma casa – depois de certo indevido sufoco. Estou dividindo apartamento com uma americana de origem indiana (significa: nascida nos EUA, de pais indianos). Este “grupo” de indianos “nascidos no exterior” merece um capitulo a parte nesse blog! Por agora vou focar no apartamento, que para lá de sujo tem tirado minhas noites depois do trabalho a: pintar janela, lavar o chão da casa, jogar baldes e baldes de lixo fora, e ainda – cuidar de um gato! Que também merece um capitulo a parte. Por agora, vale dizer que é um gato preguiçoso, que não sabe se virar, mia a noite toda e que a dona (minha colega de apartamento) não cuida. Então, eu - no meu ódio - sou capaz de jogar um balde de água gelada nele e logo em seguida, sentir compaixão depois de vê-lo sem comer nada pelo dia todo.
Enfim, achar feijão não é fácil.
Livros no HUB Mumbai
Sala de reunioes
jardim organico
2 comentários:
Olá, Ricardo, tudo bom? Sou Daniela Matielo e há poucos meses trabalho no Changemakers da Ashoka. Achei seu blog pelo Google Alerts e estou comentando para ajudar a "incentivar" a sua busca: sem dúvida a área de empreendedorismo social está precisando de gente aqui no Brasil! Estou aqui acompanhando sua história!
E, caso tenha interesse, também estou escrevendo sobre a minha experiência com Open Innovation e Open Growth aqui: http://inovacaopirata.wordpress.com.
Um abraço e boa sorte!
Ola Daniela, obrigado pela mensagem!
Vou dar uma olhada no seu blog!
Um abraco,
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