quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pessoas

Ah, pessoas! Eu sempre me surpreendo e fico emotivo quando penso em quanto estar conectado, conhecer pessoas e compartilhar podem nos inspirar tanto. Eu gosto tanto de "pessoas", de seus problemas, dramas, sentidos, descobertas - gosto tanto que chego a gostar ate de mim mesmo. Devia ter sido psicologo. E muitos que me conhecem dizem que deveria mesmo.

Ah, India. Voce nao cansa de me surpreender, nao e? Quantas pessoas loucas, fantasticas, inspiradoras, dificeis e diferentes ja passaram por mim. Um amigo me disse uma vez que cada pais do mundo recebe um tipo de "pessoa" diferente, tipico daquele lugar. A India abriga cada figura.

Para mim, o melhor de viajar e conhecer pessoas novas. Pessoas que fazem sua mente expandir, abrir e se inspirar para a ideia de que tudo e possivel neste mundo e que, sim, existe um fio que conecta tudo - pessoas, lugares, experiencias. Para consoladora e fantastica ideia de que tudo passa, tudo de bom e de ruim.

Nessa semana, entre dramas de ansiedade, um workshop de "como contar historias" com uma pessoa que "ama contar historias" - ama tanto, que vive o que ama e uma "festa de inauguracao" no meu apartamento em que apareceram 40 pessoas aleatorias, e para ficar mais aleatorio ainda, todos (juntos!) nos mudamos para festa na casa de um espanhol, que ja tinha convidado mais de 100 pessoas. Alguem ai conhece o espanhol? Chegando la encontramos gente de embaixada, consulados, gringos do mundo inteiro, indianos. As 4h da manha, para la de cansado, dormi na cama de um dos quartos. Alguem ai conhece o dono da cama?

Antes disso, aleatoriamente apresentei minha amiga Tanvi (fantastica pessoa, fantastica organizacao - que trabalha captando recursos para milaap - uma plataforma online que permite pessoas do mundo todo fazerem emprestimos a taxa de interesse baixa para projetos de desenvolvimento na India) para umas 10 pessoas diferentes (que eu nao conhecia!) da festa. Chegavamos, conversavamos agrandando a pessoa, descobriamos onde ela trabalhava, o que fazia, em que redes estava conectada e apresentava a ideia da milaap. Isso tudo com uma festa barulhenta de 140 pessoas em um apartamento. Uma festa publicada no facebook. Os donos da casa publicaram, abriram as portas e confiaram que viriam pessoas de bem. E vieram. Pessoas. Ah, pessoas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Gente nova ;)

A primeira semana de trabalho foi para lá de intensa. Conheci muita gente nova, o que me fez - em vários momentos – refletir sobre a minha vida ;) Vim trabalhar com uma incubadora de inovação social: empreendedores que por meio de diferentes modelos de negócios acabam por gerar impacto social. E varias vezes – já nesta primeira semana – fui “convidado” a sair da minha caixinha. “Zona de conforto” é algo que cada vez menos escuto falar. Sabe aquela sensação de você ser “empurrado” contra seus limites e sentir que você precisa crescer? Pois é, virou uma sensação de rotina na Índia.

Os problemas de registro legal na policia, achar casa, fazer amizades,...parecem “coisa pouca” perto dos outros desafios que surgiram. Primeiro uma lição de contexto: às vezes me assusto com a idéia de que “pedi demissão do meu emprego formal em SP, estou na Índia, vim trabalhar nessa megalópole de 20 milhões de pessoas, 50% de favelas em um novo conceito de ‘rede’ que diz que haverá uma transformação nas formas de trabalho – ou seja, estamos saindo de um padrão fechado de hierarquias corporativas para redes colaborativas – em que os relacionamentos e o impacto do nosso trabalho valem tanto quanto o dinheiro gerado”. Uma viagem? Talvez, mas certamente baseado em uma teoria muito forte e que, sim, eu acredito ser verdadeira.

Durante essa semana tive a oportunidade de conhecer muita gente. O que eu valorizo profundamente e ao mesmo tempo me coloca a pensar: “então, o que faço agora de toda essa rede?”. Daí, surgem as angustias. O espaço em que eu trabalho – O HUB de Mumbai – realiza muitas eventos como forma de networking entre empreendedores, de divulgação do espaço, trazer gente nova. Somado a isso, todo esse setor - empreendedores sociais, fundações, consultores, universidades de Mumbai que já se conhecem “entre eles” – são novos para mim. A Índia recebe muita atuação estrangeira de fundações, conta com um numero absurdo de ONGs, algumas grandes referencias de negócios sociais e poucas incubadoras de empreendimentos – encontrei muitas dessas pessoas nesta semana.

Na ultima segunda-feira, o HUB Mumbai abriu as portas para externos com vários eventos voltados a gestão de negócios sociais. Conheci a americana responsável pelas operações da Acumen Fund na Índia – sabe aquele “dream job”? Eles fizeram um workshop no HUB sobre as operações e os investimentos feitos pela Acumen no mundo e trouxeram estudantes de MBAs de faculdades americanas. Também encontrei um engenheiro que acabou de passar por um câncer e deseja iniciar um projeto voltado a conscientização de câncer – algo inédito na Índia. Mulheres que trabalham com homens para reforçar o papel feminino na sociedade indiana. Reencontrei pessoas que passaram pelo time global da AIESEC e agora estão em organizações como o HUB company e incubadoras de empreendedorismo na Índia. Um encontro marcante foi também o que tive com minha nova chefe. De fato, uma pessoa inspiradora. Aquele tipo de pessoa que te “empurra” para ser melhor, que te tira da zona de conforto a cada interação. Algo que, às vezes, se revela desagradável – mas que, no fim das contas, sou grato por saber reconhecer o valor.

E como isso tem feito sentido para mim. Aliás, como faz sentido ter um trabalho que faz sentido. Nada é fácil na vida e muitas vezes estamos “presos” em contextos muito maiores do que nós. O que já me fez refletir que o sucesso assim como o fracasso são apenas acidentes de percurso. Pensar em visões maiores do que nosso próprio ego talvez seja um dos maiores desafios de ser humano. Significa que se tudo der certo ou errado, você ainda é maior do que aquilo. E algo maior do que você busca seu próprio sentido. Significa reconhecer o quanto somos inocentes, ter auto-respeito, compaixão e muita paciência consigo, e com os outros. Significa se lembrar de que no fundo sabemos o que deve ser feito e questionar: por que então não fazemos? Significa a cada dia, olhar para aquilo que faz sentido, para a razão de estar onde estamos e nos relembrar, assim como faz o padre na missa, da atitude correta que devemos tomar.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Mumbai

Sou grato pelo feijão! Só Deus sabe quanto tempo eu levei para descobrir que havia feijão na Índia! Não adianta dizer que era só ir olhar no supermercado. Aliás, só Deus sabe quanto tempo demorei a descobrir um supermercado por aqui. Essa é a Índia. Esta tem sido a minha Índia.

Lembro de poucos meses atrás quando andava na altura do Shopping Eldorado, na Av. Rebouças em São Paulo, depois de um café com uma “empresária” do setor social brasileiro – se é que posso apresentá-la assim – refletindo sobre o que ela me falou: que “eu deveria buscar uma experiência mais empreendedora”. Ela trabalhava para a Ashoka (organização que “fundou” o termo “empreendedorismo social”) e cuidava do relacionamento da Ashoka com uma grande consultoria empresarial. Coisa bacana. Alto nível. E putz! Será que eu não era empreendedor?

Enfim, andando pela rua imaginei voltar à Índia e trabalhar para a Unltd – uma organização que incuba empreendedores sociais, dando a eles investimento financeiro, suporte em gestão e um espaço de “inovação social” – o HUB. Quando conheci o trabalho deles em 2010, imaginei:

- Que idéia massa eles tem! E seria massa se eu fizesse parte disso!

Sabe aqueles pensamentos deste tipo: “opa, vamos lá!”? Bem, muito cuidado com estes pensamentos. Em caso de repetição, podem acabar se tornando realidade. Veja o exemplo do meu caso: poucos meses depois e onde estou? Na varanda do meu novo apartamento no coração (coração porque está justamente no meio) de Mumbai ou Bombaim, na Índia. Chegar até aqui parece simples, não é? Mas juro que não foi. Pelo menos não senti ter sido.

Luzes nas "estrelas" da nova varanda: esperanca e companhia noturna

Varanda durante o dia: nevoa e criancas jogando criquete

O trabalho da Unltd é irado! Uma semana por aqui e minha impressão não mudou – aliás, melhorou! De primeira vista, encontrei pessoas muito engajadas, conectadas com o propósito e bem preparadas – centradas, pés no chão e mãos na massa. Em poucos anos, conseguiram captar bastante dinheiro e estão investindo e aprendendo a investir em empreendedores que operam negócios sociais em uma realidade tão complexa como a Índia – em que os meios de comunicação, os canais de venda, as razoes de compra: tudo parece ser questionado.

Faz apenas uma semana que cheguei – e não me sinto mais “empolgado” para falar das diferenças culturais na Índia – afinal, esta é a terceira vez que volto aqui! Mas sim, as mulheres continuam de sáris, os trens abarrotados, a poeira cobrindo a cidade, os casamentos arranjados,... Isto tudo de pano de fundo. Porque meu olhar mudou o foco. Quero aprender sobre este setor social e sobre pessoas que, apesar de muitas dificuldades, vem iniciando seu próprio negocio em um contexto tão complexo.

Todo dia preciso me lembrar dessa visão, desse desejo – que “moveu” meus dias e meses em São Paulo. Porque amigo, não é fácil. A sujeira tem me incomodado. Sabe o que é uma nevoa branca cobrir a cidade e às 8h da manha, você mal conseguir ver o prédio do vizinho? E daí, não falo nem só sobre “ver”, falo de “respirar” mesmo. Sabe o que é ficar em uma casa de amigos estrangeiros em que tem “baratas dentro da geladeira” e eles falarem “ já to acostumado, é a Índia!” Sabe o que é você procurar um apartamento e todos os prédios parecerem que “uma bomba caiu bem em cima”? Daí você pergunta: Jesus, ninguém reforma casa nesse país? Sabe o que é você precisar de 474890549038 documentos para se registrar perante a burocracia do governo indiano?

Enfim, fácil não vou dizer que é.

Consegui uma casa – depois de certo indevido sufoco. Estou dividindo apartamento com uma americana de origem indiana (significa: nascida nos EUA, de pais indianos). Este “grupo” de indianos “nascidos no exterior” merece um capitulo a parte nesse blog! Por agora vou focar no apartamento, que para lá de sujo tem tirado minhas noites depois do trabalho a: pintar janela, lavar o chão da casa, jogar baldes e baldes de lixo fora, e ainda – cuidar de um gato! Que também merece um capitulo a parte. Por agora, vale dizer que é um gato preguiçoso, que não sabe se virar, mia a noite toda e que a dona (minha colega de apartamento) não cuida. Então, eu - no meu ódio - sou capaz de jogar um balde de água gelada nele e logo em seguida, sentir compaixão depois de vê-lo sem comer nada pelo dia todo.

Enfim, achar feijão não é fácil.

Livros no HUB Mumbai

Sala de reunioes

jardim organico