Essa semana tivemos um treinamento com a TATA com duração de 10 dias de 9h às 19h. Um grupo de 30 trainees indianos (estudantes recém formados em MBA) foi selecionado em toda a Índia e eles estão aqui em Mumbai para este treinamento. Daí tive sorte de chegar nessa época e pegar o treinamento deles. Eles têm entre 23 e 26 anos e vão trabalhar com RH em toda a Índia (cidades como Déli, Calcutá, Chennai, Bangalore,...).
O nosso batch, ou seja, grupo ;)
Este treinamento foi legal para ter uma visão geral da empresa, suas áreas de negócios, produtos, gestão de projetos, estrutura organizacional e sobre todas as funções e papel do RH. O legal é que o setor de RH também está relacionado com as políticas de diversidade, sustentabilidade e responsabilidade social da empresa. Um dos dias tivemos que debater um caso de diversidade cultural de uma indiana que por hábitos culturais não olhava nos olhos dos outros enquanto falava. Ela foi transferida aos EUA e repreendida pelo seu chefe americano por esta postura que ele considerou insegura e apática. A idéia era propor soluções como RH para políticas de diversidade da empresa.
Além disso, está sendo ótimo para interagir com os trainees indianos e os gestores da empresa, entender como é o jeito indiano de trabalhar e fazer negócios. As sessões são dadas por diretores de RH e até de marketing de nível global. As primeiras sessões foram com os Head of Global HR para Talent Acquisition e Talent Deployment (ou seja, eles dividiram a área de RH em processos e cada um tem seu chefão global).
Eu estou adorando os treinamentos, porque minha formação é de engenharia. Tudo que aprendi com RH foi na AIESEC e agora está começando a esclarecer como isso funciona dentro de uma empresa com 140 mil funcionários, atuando em mais de 80 países. A base que tive na AIESEC tem sido fundamental para acompanhar bem os treinamentos, no mesmo pé dos outros indianos (todos eles têm MBA em RH).
Essa semana, a Head of Global Talent Management (chefona dos processos de gestão de talentos em nível global) fez uma sessão de motivação com a gente. E foi simplesmente fantástico! Uma mulher madura vestida em sári, cabelo preso em um coque e um sinal vermelho na testa entrou na sala e quando começou a falar não consegui mais tirar os olhos dela. De um senso de humor incrível falou sobre carreira na TCS, sobre a forma como os jovens buscam oportunidades atualmente, sobre família, equilíbrio e deu dicas de vida. Ela fez várias ironias com a área de RH e a falta de experiência da gente. Falou sobre a ansiedade dos jovens que pulam de empresa para empresa, sobre a necessidade de reconhecimento rápido e as inseguranças profissionais. Encerrou deixando seu recado, que não poderia ser mais confortante vindo de uma psicóloga com doutorado, carreira internacional e 20 anos de empresa: não tenham pressa, não busquem o céu, dêem um passo de cada vez. Vocês têm duvidas, e eu tenho respostas que aprendi durantes todos esses anos. Façam um bom trabalho, independente de qual ele seja e com maturidade, cresça.
Jantando juntos
Foi importante para que a gente refletisse qual é o nosso tempo e qual é o tempo da empresa. Para atingir objetivos na maioria das vezes é melhor não buscá-los em linha reta, para crescer é preciso aprender a crescer. Além disso, me fez refletir sobre determinação e realização. Ser determinado e alcançar um objetivo desejado não significa realizá-lo (no sentido de concluí-lo). Por exemplo, digamos que você quer muito um determinado emprego com determinadas funções, é o trabalho dos seus sonhos. Daí você planeja, se esforça e consegue! Ótimo, uma etapa foi atingida. Mas pela frente vem algo mais difícil ainda: manter o emprego e crescer com ele! Para isso, é preciso entender que bons e maus dias virão. Você vai precisar enfrentar as dificuldades e elas são fundamentais para que você cresça.
Agatha e eu: empresa quer diversidade no quadro de funcionários
Voltando ao treinamento, na sala, eu e a Agatha (uma polonesa) somos as atrações internacionais. Eles são super gentis, nos perguntam dos nossos países, nos integram nos grupos e pedem licença para fazer uma piada que só os indianos iriam entender. Uma das facilitadoras me pediu para fazer um ice break (ou seja, uma dinâmica de quebra gelo) e eu ensinei os indianos a dançar lapada na rachada, o famoso forró cearense que virou hit na AIESEC! Imaginem a cena... Nas horas mais sensuais, eu fiz o passo e eles ficaram me olhando como se fosse algo de outro mundo. Daí, imaginei: exagerei, fiz alguma coisa não aceitável para Índia. Tive que brincar e disse: isso é culturalmente difícil para vocês? (Lembrei do Gabs e suas dúvidas culturais existenciais quando ele foi ao Marrocos, perguntava-se – devo trocar de roupa em um quarto com uma criança mulçumana? ;) Na hora eles falaram NÃO! E todos começaram a dançar. Foi muito engraçado. Daí quando a facilitadora pediu para eu traduzir a letra, tive que sair pela tangente: fica para próxima, hehehe... não quero perder meu emprego =D Agora, ela me pediu para fazer uma listinha desses quebra-gelos para ela usar durante esses dias de treinamento.
Além das sessões normais, também fazemos dinâmicas de grupo. Já fizemos um teatro, tivemos que trabalhar em grupo em cima de casos reais e propor soluções, construir uma torre com canudos de plástico e desenvolver uma propaganda para o carro Nano da Tata,... Pelas pessoas que tenho interagido no treinamento, estou gostando muito do jeito indiano de trabalhar. Eles em geral são bons negociadores, sabem o que querem, são assertivos, dizem o que tem que ser dito e são muito cordiais em grupo. Por alguma razão que me parece cultural, os jovens do treinamento respeitam muito os facilitadores e se respeitam entre si. Na Índia, tem muita gente e em geral as pessoas precisam aprender a compartilhar e ao mesmo tempo brigar pelo que é seu. Acho que isso tem dado uma mistura legal e talvez até seja uns dos fatores que estejam levando a Índia a se tornar uma super potencial global. Na América Latina, no geral, as pessoas são muito passionais. Facilmente levam as coisas para o lado pessoal. Tiro isso das experiências de time que tive, quantas vezes não discutimos sobre fulano que entendeu assim e você disse assado, daí ele ficou com raiva, parou de trabalhar, desmotivou outras pessoas, e por aí vai. Aqui na Índia negociar e debater são culturais, assim como parece ser não levar para o lado pessoal. Terminou a discussão, terminou e pronto.
Linda Ruchi de Hyderabad (outra cidade da Índia)
Acabei por fazer grandes amizades, todos indianos! Sentamos sempre no mesmo grupo que foi pré-determinado antes de começar. Levei um tempo para aprender os nomes deles, mas agora adoro todos de montão: Anu, Amrita, Mayank, Vinya, Dany e Nisha. Morro de rir a cada dia. No último, fomos todos jantar juntos (me ofereciam de tudo, queriam que eu experimentasse e depois ficavam rindo das minhas caretas) e depois fomos para um tipo de barzinho indiano. Os indianos não costumam beber. Nem pessoas fumando eu tenho visto!
Novas amizades: Nisha e Amrita
Sobre a empresa, a TATA CONSULTANCY SERVICES é uma empresa pertencente ao Grupo TATA, que é o maior grupo de empresas da Índia. Esse grupo é formado 96 empresas que variam de automóveis (Tata Nano, Land Rover e Jaguar) a indústrias de fabricação de aço, incluindo até redes de Hotel como o Taj Mahal Hotel.
A TCS (Tata Consultancy Services) é a consultoria deste grupo. Presta consultoria em tecnologia da informação , outsourcing, engenharia e negócios. Possuem 139 escritórios em 42 países, além de outros centros de apoio e laboratórios de inovação espalhados pelo mundo. A idéia desses laboratórios, conhecidos como innovation labs é criar soluções ainda não pensadas para seus clientes. Eles desenvolveram, por exemplo, um sistema de bilhetes aéreos para a empresa holandesa KLM em que o passageiro recebe no celular sua passagem.
Meninas do grupo juntas da Tanupriah (coordenadora do treinamento)
A TCS trabalha sob os princípios de desenvolver soluções que sejam de alta qualidade, custo efetivo em qualquer lugar e a qualquer hora para que seus clientes atinjam seus resultados e ganhem vantagem competitiva. Para isso, eles trabalham com uma linha de consultoria padronizada globalmente e que atende indústrias de 24 setores diferentes – de bancos e seguros a indústrias de alta tecnologia e do setor energético. Entre seus clientes, 49 são empresas que estão no TOP 100 da revista Fortune, como a General Eletric e o Citibank.
No treinamento pude perceber que eles buscam muitos engenheiros de tecnologia da informação. Este setor de TI muda muito e muito rápido, quem tem as competências e habilidades necessárias pode ter certeza que está empregado. Se a pessoa tiver habilidades de liderança, resolver problemas,... melhor ainda! Na TCS, essas pessoas trabalham em geral como consultores que atuam diretamente no cliente ou na estrutura da própria TCS. E como a empresa é global, os funcionários podem ser alocados no mundo todo de acordo com o projeto em que estiverem trabalhando. No meu quarto tem um indiano que depois dessa semana vai fazer consultoria por 1 ano em uma empresa na Arábia Saudita. Eles deixaram claro também que chegam a preferir engenheiros do que profissionais de RH para trabalhar com recursos humanos. A TCS está na disputa por talentos com outras grandes empresas. Aqui na Índia, os recrutamentos de trainees acontecem direto em universidades com alunos dos programas de MBA.
sábado, 26 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Blogging my way to India
A aventura começou!
Vitória – Rio – Paris – Mumbai. Essa foi a rota de 30h até encontrar meu apartamento as 3h da manhã. Despedida no aeroporto com minha família e minha amiga Janaína. Embarquei para França com Alê e o vôo foi de longe o mais divertido de todos! Riamos de tudo, queríamos praticar francês, então qualquer situação já era motivo para soltar um ça va (tudo bem) para a aeromoça e pedir champagne ou vinho (que de chique não tem nada para quem nunca bebe e começa a passar mal dentro do avião). Fora a hora em que passamos conversando com um russo ex nadador olímpico um tanto exótico (que andava quase sem camisa dentro do avião) e sua mãe (elogiada pela aeromoça: cette femme mange trés bien – esta mulher come muito bem =P). Alê também ficou muito feliz com as opções do menu e disse que nunca tinha comido nada tão chique (fala sério alê, carne assada, cenoura e arroz?). Em Paris, nos empolgamos com o frio de 6 graus e a fumacinha saindo da boca. Foi o suficiente para nos despedirmos, cada um indo para um lugar diferente. Ele foi aproveitar as horas de conexão para uma rápida visita a Torre Eiffel (será que ele conseguiu?) e depois seguir para Berlin, onde junto da Jana e da Lívia eles começam um mochilão imperdível de engraçado que vai ser. Já eu tive que me apressar para pegar a conexão para Mumbai.
Alê procura conexão de vôo
O vôo foi tranqüilo e com 85% formado por indianos. A chegada em Mumbai já foi bem atípica. A começar pelo horário (meia noite). A saída do avião já revelava um cheiro diferente no aeroporto, um cheiro forte e tipicamente indiano. Cada passo que eu dava me empolgava mais pelo que vinha a frente. O oficial me fez algumas perguntas padrão e carimbou meu visto. Welcome to India, ele disse. Daí senti que a jornada tinha começado.
Saí em busca de trocar meu dinheiro pelas rupias e em achar o Anuraag, menino da AIESEC que iria me buscar. Tarefa que logo se revelou complicada ;) Nessa busca por onde ele deve estar me esperando acabei descobrindo (Marcelinha já tinha me falado) que o aeroporto só deixa entrar as pessoas que vão embarcar, logo todas as outras estão fora! E não é que estavam mesmo? A 1h da manhã uma multidão tava na porta do aeroporto segurando placa de todos os tipos. Não consegui conter o riso, era tanta gente e tanta placa que eu só pude rir. Não achando o menino eu ainda tinha a opção ligar. Fui buscar um telefone e descobri que precisava de uma moeda para fazer a chamada, moeda que eu só conseguiria dentro do aeroporto. Voltei e tentei entrar, quando percebi a polícia atrás de um tipo de barricada com sacos de areia bem na porta do aeroporto (tipo um filme de guerra hehehe) e fuzis apontados para a multidão que esperava os passageiros no lado de fora. Com uma arma na direção da minha cabeça dei um sorriso amarelo para o guardinha e falei eu não posso entrar, não é mesmo? Tudo de bom para sua família...
No meio da muvuca, encontrei um cego que fazia chamadas em um telefone por 3 rupias o minuto. Liguei e Anuraag disse que quem viria me buscar era Siddarth (alguma semelhança com Sidartha Gautama – o Buda? =S). Logo Siddarth apareceu e me colocou em um taxi (custou assustadoras 500 rupias, que na verdade não passam de 20 reais por 1h30 de corrida!).
A corrida de taxi foi bem engraçada. O taxista (que não falava inglês) parou várias vezes, sendo que uma era para mijar, outra para abastecer e outra para cumprimentar um desconhecido na rua. Mumbai estava coberta por uma nevoa que em alguns momentos mal dava para ver os prédios. Era olhar para a luz, que parecia uma poeira levantada. Acho que é uma névoa de poeira =P Na vinda para o apartamento da Tata, vi muitos tu-tuks, cachorros, uma vaca, poeira, favelas, prédios que pareciam que uma bomba tinha acabado de cair. Os dois taxistas foram muito legais, sozinho eu jamais encontraria esse apartamento as 3h da manhã. Eles se perderam, se acharam, paravam, discutiam na rua com outros indianos onde deveria ser esse tal de condomínio Lodha Paradise que eu iria ficar. Demorou tanto que tinha hora que eu achava eles iam me largar no meio da rua e desistir. Pelo contrário, não se aquietaram até me verem dentro de casa!
Nevoa de poeira cobre Mumbai
A casa na verdade é um apartamento que a Tata (empresa que irei trabalhar) comprou nessa região que está crescendo com condomínios novos nos arredores de Mumbai. Já que na cidade mesmo já não cabe mais ninguém, abarrotada com mais de 20 milhões de pessoas. O apartamento tem dois quartos e recebe funcionários da Tata em passagem pela cidade. Tem dois empregados: um cozinheiro e um caseiro (=S). Eles dormiam no chão da cozinha na noite que cheguei (de cortar o coração) e fazem tudo para mim. Apesar da minha costumeira cara-de-pau, chego a ficar envergonhado. Me trazem água, se eu chego na sala eles já se levantam para eu sentar, não deixaram eu nem mudar minhas malas de quarto (eles levaram)...
Um dos prédios da TATA: eles estão em todos os lugares.
Uma das experiências que eu mais esperava era a de pegar um daqueles trens indianos a la quem quer ser um milionário. Tive que andar, pegar um tuk tuk, um trem e um taxi para chegar um dos prédios em que a Tata tem escritórios em Mumbai. O trem foi de longe o mais divertido. Pelo tanto de pessoas nas estações, não é de se admirar que a Índia tenha 1 bilhão de habitantes. Tudo tem fila. Depois de entender o caos da estação e com meu bilhete em mãos, achei o trem, mas entrei no vagão errado. Por assedio sexual nos trens, o governo separou as mulheres e os homens. Eu fui entrar justo no vagão das mulheres. Elas começaram a gritar que tinha um homem no vagão. Imagina mulçumanas cobertas com véu e indianas vestidas de sári me botando para fora do trem. No fim tudo acabou em boas risadas com as indianas. Na volta para casa, depois de uma hora feito sardinha dentro do trem (o transcol é uma maravilha, acreditem!), chegando na minha estação, a muvuca de homens começou a pular para fora do trem com ele em movimento. E onde eu estava? Justo na porta com cabelos aos ventos. Não tive a opção não pular, eu fui lançado com a galera para fora do trem. Sorte que do lado de fora já vinha outra centena de indianos pulando para dentro do trem, então tive quem me segurasse antes de eu dar de cara com o chão.
Lotados ate no domingo a noite
Já vi muitas pessoas perguntarem a outras que haviam viajado para Índia se elas haviam gostado ou não. Em geral, as pessoas falam que você ama ou você odeia a Índia. Eu discordo um pouco. Primeiro acho que ninguém ama a Índia. É impossível um gostar de um lugar que a melhor palavra para defini-lo talvez seja caos. Um lugar em que as buzinas estão prontas para te deixar surdo, que os estrangeiros chegam a passar mal para se adaptar a comida, que tem fila para tudo, que a cultura é de burocracia, que os trens têm gente até no teto, que atravessar uma rua pode ser uma grande aventura, que poucos entendem o que você quer dizer, que uma poeira cobre a cidade e mal dá para ver os prédios no outro lado da margem, que você tem que ficar atento para não te cobrarem mais do que o produto custa, que os rios são poluídos e as favelas estão para todos os lados... Agora, isso não quer dizer que você não pode se acostumar. Mumbai, mais ou menos, seria equivalente a São Paulo indiana – só que muito pior ;)
Água de fontes incertas: a ONU prevê que 60% da população global viverá em cidades grandes em 2028. Na Índia isso significará quase 800 milhões de pessoas. De onde vai vir a água potável?
Esta semana, uma indiana coberta com sári e véu no rosto segurava uma criança na rua em que eu passava de taxi. No sinal vermelho, ela agarrou no vidro do taxi e pedia dinheiro, apontava para boca que estava com fome. O sinal demorou tanto a abrir e ela não saia da porta do taxi. O filho dela se balançava sufocado no véu e eu não conseguia não olhar para ela. Uma cena tão triste e tão comum em Mumbai.
Essa semana, depois de ser enganado pelo motorista do tuk tuk (que queria me cobrar 5 vezes mais o preço da corrida), cheguei na empresa. Tive uma boa primeira impressão dos meus chefes, ainda assim existe uma adaptação a cultura da empresa e as minhas responsabilidades que leva tempo. Na volta, a entrada no trem foi desgastante. A estação estava tão lotada, as pessoas começavam a entrar no trem em movimento. Quando ele parava era uma briga, socos, como se a estação estivesse pegando fogo e a saída fosse a porta do trem. Quase perdi meus sapatos e entrei socado no trem depois de 4 tentativas sem sucesso. Deu vontade de chorar, eram 6h30 da tarde e pensei que ia ficar ali até meia noite para conseguir entrar em um trem.
Mas não adianta chorar que isso não vai resolver nada, não vai limpar as ruas, tirar as pessoas dos trens, organizar o trânsito, melhorar a vida de quem mora nas favelas, matar a saudade da família... A questão é se adaptar. Por isso, estou tratando de achar uma nova casa mais perto do escritório, conversando com outras pessoas da empresa e hoje vou falar com outros estrangeiros que estão aqui. Quero também começar a fazer academia (que fica na própria empresa!) porque isso me ajuda a relaxar e a ter uma vida mais saudável. Estou botando no papel algumas coisas que quero fazer nesse ano como aprender sobre como uma grande empresa funciona em um país bombante como a Índia, aprender sobre RH e Responsabilidade Social Corporativa, fazer yoga e também conhecer lugares que nunca iria como os Himalaias, o Taj Mahal,...
Trainees se encontram: motivação naqueles que passam pela mesma situação
Ao mesmo tempo em que tem as dificuldades de adaptação e as saudades, essa primeira semana já trouxe também momentos inesquecíveis, difícil de explicar sua beleza e como eles agregam para que sejamos seres humanos melhores. Como o dia em que pegamos o último trem e de tão vazio, ficamos na porta com braços para fora sentindo o vento enquanto o trem passava no meio das favelas de Mumbai. Ou o dia que sentados na praça, um indiano nos explicava sobre as castas, os casamentos e sobre como perceber se alguém era um dallit.
Desfile de sáris: a classe social é percebida na baixa ou alta qualidade do sári
O indiano apontou e disse: percebe-se que ela vem de um vilarejo, é uma dallit.
Hotel Taj Mahal: bomba de terroristas paquistaneses botou o hotel em chamas e os indianos em pânico
Porta para a Índia: Mumbai recebe o mundo por esta porta (Pyush da Índia e Akila do Sri Lanka)
Indiano para lá de fashion: eu perguntei para ele – você é um astro de Bollywood? E tirei a foto...
Partida de críquete: paixão nacional
Vitória – Rio – Paris – Mumbai. Essa foi a rota de 30h até encontrar meu apartamento as 3h da manhã. Despedida no aeroporto com minha família e minha amiga Janaína. Embarquei para França com Alê e o vôo foi de longe o mais divertido de todos! Riamos de tudo, queríamos praticar francês, então qualquer situação já era motivo para soltar um ça va (tudo bem) para a aeromoça e pedir champagne ou vinho (que de chique não tem nada para quem nunca bebe e começa a passar mal dentro do avião). Fora a hora em que passamos conversando com um russo ex nadador olímpico um tanto exótico (que andava quase sem camisa dentro do avião) e sua mãe (elogiada pela aeromoça: cette femme mange trés bien – esta mulher come muito bem =P). Alê também ficou muito feliz com as opções do menu e disse que nunca tinha comido nada tão chique (fala sério alê, carne assada, cenoura e arroz?). Em Paris, nos empolgamos com o frio de 6 graus e a fumacinha saindo da boca. Foi o suficiente para nos despedirmos, cada um indo para um lugar diferente. Ele foi aproveitar as horas de conexão para uma rápida visita a Torre Eiffel (será que ele conseguiu?) e depois seguir para Berlin, onde junto da Jana e da Lívia eles começam um mochilão imperdível de engraçado que vai ser. Já eu tive que me apressar para pegar a conexão para Mumbai.
Alê procura conexão de vôo
O vôo foi tranqüilo e com 85% formado por indianos. A chegada em Mumbai já foi bem atípica. A começar pelo horário (meia noite). A saída do avião já revelava um cheiro diferente no aeroporto, um cheiro forte e tipicamente indiano. Cada passo que eu dava me empolgava mais pelo que vinha a frente. O oficial me fez algumas perguntas padrão e carimbou meu visto. Welcome to India, ele disse. Daí senti que a jornada tinha começado.
Saí em busca de trocar meu dinheiro pelas rupias e em achar o Anuraag, menino da AIESEC que iria me buscar. Tarefa que logo se revelou complicada ;) Nessa busca por onde ele deve estar me esperando acabei descobrindo (Marcelinha já tinha me falado) que o aeroporto só deixa entrar as pessoas que vão embarcar, logo todas as outras estão fora! E não é que estavam mesmo? A 1h da manhã uma multidão tava na porta do aeroporto segurando placa de todos os tipos. Não consegui conter o riso, era tanta gente e tanta placa que eu só pude rir. Não achando o menino eu ainda tinha a opção ligar. Fui buscar um telefone e descobri que precisava de uma moeda para fazer a chamada, moeda que eu só conseguiria dentro do aeroporto. Voltei e tentei entrar, quando percebi a polícia atrás de um tipo de barricada com sacos de areia bem na porta do aeroporto (tipo um filme de guerra hehehe) e fuzis apontados para a multidão que esperava os passageiros no lado de fora. Com uma arma na direção da minha cabeça dei um sorriso amarelo para o guardinha e falei eu não posso entrar, não é mesmo? Tudo de bom para sua família...
No meio da muvuca, encontrei um cego que fazia chamadas em um telefone por 3 rupias o minuto. Liguei e Anuraag disse que quem viria me buscar era Siddarth (alguma semelhança com Sidartha Gautama – o Buda? =S). Logo Siddarth apareceu e me colocou em um taxi (custou assustadoras 500 rupias, que na verdade não passam de 20 reais por 1h30 de corrida!).
A corrida de taxi foi bem engraçada. O taxista (que não falava inglês) parou várias vezes, sendo que uma era para mijar, outra para abastecer e outra para cumprimentar um desconhecido na rua. Mumbai estava coberta por uma nevoa que em alguns momentos mal dava para ver os prédios. Era olhar para a luz, que parecia uma poeira levantada. Acho que é uma névoa de poeira =P Na vinda para o apartamento da Tata, vi muitos tu-tuks, cachorros, uma vaca, poeira, favelas, prédios que pareciam que uma bomba tinha acabado de cair. Os dois taxistas foram muito legais, sozinho eu jamais encontraria esse apartamento as 3h da manhã. Eles se perderam, se acharam, paravam, discutiam na rua com outros indianos onde deveria ser esse tal de condomínio Lodha Paradise que eu iria ficar. Demorou tanto que tinha hora que eu achava eles iam me largar no meio da rua e desistir. Pelo contrário, não se aquietaram até me verem dentro de casa!
Nevoa de poeira cobre Mumbai
A casa na verdade é um apartamento que a Tata (empresa que irei trabalhar) comprou nessa região que está crescendo com condomínios novos nos arredores de Mumbai. Já que na cidade mesmo já não cabe mais ninguém, abarrotada com mais de 20 milhões de pessoas. O apartamento tem dois quartos e recebe funcionários da Tata em passagem pela cidade. Tem dois empregados: um cozinheiro e um caseiro (=S). Eles dormiam no chão da cozinha na noite que cheguei (de cortar o coração) e fazem tudo para mim. Apesar da minha costumeira cara-de-pau, chego a ficar envergonhado. Me trazem água, se eu chego na sala eles já se levantam para eu sentar, não deixaram eu nem mudar minhas malas de quarto (eles levaram)...
Um dos prédios da TATA: eles estão em todos os lugares.
Uma das experiências que eu mais esperava era a de pegar um daqueles trens indianos a la quem quer ser um milionário. Tive que andar, pegar um tuk tuk, um trem e um taxi para chegar um dos prédios em que a Tata tem escritórios em Mumbai. O trem foi de longe o mais divertido. Pelo tanto de pessoas nas estações, não é de se admirar que a Índia tenha 1 bilhão de habitantes. Tudo tem fila. Depois de entender o caos da estação e com meu bilhete em mãos, achei o trem, mas entrei no vagão errado. Por assedio sexual nos trens, o governo separou as mulheres e os homens. Eu fui entrar justo no vagão das mulheres. Elas começaram a gritar que tinha um homem no vagão. Imagina mulçumanas cobertas com véu e indianas vestidas de sári me botando para fora do trem. No fim tudo acabou em boas risadas com as indianas. Na volta para casa, depois de uma hora feito sardinha dentro do trem (o transcol é uma maravilha, acreditem!), chegando na minha estação, a muvuca de homens começou a pular para fora do trem com ele em movimento. E onde eu estava? Justo na porta com cabelos aos ventos. Não tive a opção não pular, eu fui lançado com a galera para fora do trem. Sorte que do lado de fora já vinha outra centena de indianos pulando para dentro do trem, então tive quem me segurasse antes de eu dar de cara com o chão.
Lotados ate no domingo a noite
Já vi muitas pessoas perguntarem a outras que haviam viajado para Índia se elas haviam gostado ou não. Em geral, as pessoas falam que você ama ou você odeia a Índia. Eu discordo um pouco. Primeiro acho que ninguém ama a Índia. É impossível um gostar de um lugar que a melhor palavra para defini-lo talvez seja caos. Um lugar em que as buzinas estão prontas para te deixar surdo, que os estrangeiros chegam a passar mal para se adaptar a comida, que tem fila para tudo, que a cultura é de burocracia, que os trens têm gente até no teto, que atravessar uma rua pode ser uma grande aventura, que poucos entendem o que você quer dizer, que uma poeira cobre a cidade e mal dá para ver os prédios no outro lado da margem, que você tem que ficar atento para não te cobrarem mais do que o produto custa, que os rios são poluídos e as favelas estão para todos os lados... Agora, isso não quer dizer que você não pode se acostumar. Mumbai, mais ou menos, seria equivalente a São Paulo indiana – só que muito pior ;)
Água de fontes incertas: a ONU prevê que 60% da população global viverá em cidades grandes em 2028. Na Índia isso significará quase 800 milhões de pessoas. De onde vai vir a água potável?
Esta semana, uma indiana coberta com sári e véu no rosto segurava uma criança na rua em que eu passava de taxi. No sinal vermelho, ela agarrou no vidro do taxi e pedia dinheiro, apontava para boca que estava com fome. O sinal demorou tanto a abrir e ela não saia da porta do taxi. O filho dela se balançava sufocado no véu e eu não conseguia não olhar para ela. Uma cena tão triste e tão comum em Mumbai.
Essa semana, depois de ser enganado pelo motorista do tuk tuk (que queria me cobrar 5 vezes mais o preço da corrida), cheguei na empresa. Tive uma boa primeira impressão dos meus chefes, ainda assim existe uma adaptação a cultura da empresa e as minhas responsabilidades que leva tempo. Na volta, a entrada no trem foi desgastante. A estação estava tão lotada, as pessoas começavam a entrar no trem em movimento. Quando ele parava era uma briga, socos, como se a estação estivesse pegando fogo e a saída fosse a porta do trem. Quase perdi meus sapatos e entrei socado no trem depois de 4 tentativas sem sucesso. Deu vontade de chorar, eram 6h30 da tarde e pensei que ia ficar ali até meia noite para conseguir entrar em um trem.
Mas não adianta chorar que isso não vai resolver nada, não vai limpar as ruas, tirar as pessoas dos trens, organizar o trânsito, melhorar a vida de quem mora nas favelas, matar a saudade da família... A questão é se adaptar. Por isso, estou tratando de achar uma nova casa mais perto do escritório, conversando com outras pessoas da empresa e hoje vou falar com outros estrangeiros que estão aqui. Quero também começar a fazer academia (que fica na própria empresa!) porque isso me ajuda a relaxar e a ter uma vida mais saudável. Estou botando no papel algumas coisas que quero fazer nesse ano como aprender sobre como uma grande empresa funciona em um país bombante como a Índia, aprender sobre RH e Responsabilidade Social Corporativa, fazer yoga e também conhecer lugares que nunca iria como os Himalaias, o Taj Mahal,...
Trainees se encontram: motivação naqueles que passam pela mesma situação
Ao mesmo tempo em que tem as dificuldades de adaptação e as saudades, essa primeira semana já trouxe também momentos inesquecíveis, difícil de explicar sua beleza e como eles agregam para que sejamos seres humanos melhores. Como o dia em que pegamos o último trem e de tão vazio, ficamos na porta com braços para fora sentindo o vento enquanto o trem passava no meio das favelas de Mumbai. Ou o dia que sentados na praça, um indiano nos explicava sobre as castas, os casamentos e sobre como perceber se alguém era um dallit.
Desfile de sáris: a classe social é percebida na baixa ou alta qualidade do sári
O indiano apontou e disse: percebe-se que ela vem de um vilarejo, é uma dallit.
Hotel Taj Mahal: bomba de terroristas paquistaneses botou o hotel em chamas e os indianos em pânico
Porta para a Índia: Mumbai recebe o mundo por esta porta (Pyush da Índia e Akila do Sri Lanka)
Indiano para lá de fashion: eu perguntei para ele – você é um astro de Bollywood? E tirei a foto...
Partida de críquete: paixão nacional
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