segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Blogging my way to India

A aventura começou!

Vitória – Rio – Paris – Mumbai. Essa foi a rota de 30h até encontrar meu apartamento as 3h da manhã. Despedida no aeroporto com minha família e minha amiga Janaína. Embarquei para França com Alê e o vôo foi de longe o mais divertido de todos! Riamos de tudo, queríamos praticar francês, então qualquer situação já era motivo para soltar um ça va (tudo bem) para a aeromoça e pedir champagne ou vinho (que de chique não tem nada para quem nunca bebe e começa a passar mal dentro do avião). Fora a hora em que passamos conversando com um russo ex nadador olímpico um tanto exótico (que andava quase sem camisa dentro do avião) e sua mãe (elogiada pela aeromoça: cette femme mange trés bien – esta mulher come muito bem =P). Alê também ficou muito feliz com as opções do menu e disse que nunca tinha comido nada tão chique (fala sério alê, carne assada, cenoura e arroz?). Em Paris, nos empolgamos com o frio de 6 graus e a fumacinha saindo da boca. Foi o suficiente para nos despedirmos, cada um indo para um lugar diferente. Ele foi aproveitar as horas de conexão para uma rápida visita a Torre Eiffel (será que ele conseguiu?) e depois seguir para Berlin, onde junto da Jana e da Lívia eles começam um mochilão imperdível de engraçado que vai ser. Já eu tive que me apressar para pegar a conexão para Mumbai.

Alê procura conexão de vôo

O vôo foi tranqüilo e com 85% formado por indianos. A chegada em Mumbai já foi bem atípica. A começar pelo horário (meia noite). A saída do avião já revelava um cheiro diferente no aeroporto, um cheiro forte e tipicamente indiano. Cada passo que eu dava me empolgava mais pelo que vinha a frente. O oficial me fez algumas perguntas padrão e carimbou meu visto. Welcome to India, ele disse. Daí senti que a jornada tinha começado.

Saí em busca de trocar meu dinheiro pelas rupias e em achar o Anuraag, menino da AIESEC que iria me buscar. Tarefa que logo se revelou complicada ;) Nessa busca por onde ele deve estar me esperando acabei descobrindo (Marcelinha já tinha me falado) que o aeroporto só deixa entrar as pessoas que vão embarcar, logo todas as outras estão fora! E não é que estavam mesmo? A 1h da manhã uma multidão tava na porta do aeroporto segurando placa de todos os tipos. Não consegui conter o riso, era tanta gente e tanta placa que eu só pude rir. Não achando o menino eu ainda tinha a opção ligar. Fui buscar um telefone e descobri que precisava de uma moeda para fazer a chamada, moeda que eu só conseguiria dentro do aeroporto. Voltei e tentei entrar, quando percebi a polícia atrás de um tipo de barricada com sacos de areia bem na porta do aeroporto (tipo um filme de guerra hehehe) e fuzis apontados para a multidão que esperava os passageiros no lado de fora. Com uma arma na direção da minha cabeça dei um sorriso amarelo para o guardinha e falei eu não posso entrar, não é mesmo? Tudo de bom para sua família...

No meio da muvuca, encontrei um cego que fazia chamadas em um telefone por 3 rupias o minuto. Liguei e Anuraag disse que quem viria me buscar era Siddarth (alguma semelhança com Sidartha Gautama – o Buda? =S). Logo Siddarth apareceu e me colocou em um taxi (custou assustadoras 500 rupias, que na verdade não passam de 20 reais por 1h30 de corrida!).

A corrida de taxi foi bem engraçada. O taxista (que não falava inglês) parou várias vezes, sendo que uma era para mijar, outra para abastecer e outra para cumprimentar um desconhecido na rua. Mumbai estava coberta por uma nevoa que em alguns momentos mal dava para ver os prédios. Era olhar para a luz, que parecia uma poeira levantada. Acho que é uma névoa de poeira =P Na vinda para o apartamento da Tata, vi muitos tu-tuks, cachorros, uma vaca, poeira, favelas, prédios que pareciam que uma bomba tinha acabado de cair. Os dois taxistas foram muito legais, sozinho eu jamais encontraria esse apartamento as 3h da manhã. Eles se perderam, se acharam, paravam, discutiam na rua com outros indianos onde deveria ser esse tal de condomínio Lodha Paradise que eu iria ficar. Demorou tanto que tinha hora que eu achava eles iam me largar no meio da rua e desistir. Pelo contrário, não se aquietaram até me verem dentro de casa!

Nevoa de poeira cobre Mumbai

A casa na verdade é um apartamento que a Tata (empresa que irei trabalhar) comprou nessa região que está crescendo com condomínios novos nos arredores de Mumbai. Já que na cidade mesmo já não cabe mais ninguém, abarrotada com mais de 20 milhões de pessoas. O apartamento tem dois quartos e recebe funcionários da Tata em passagem pela cidade. Tem dois empregados: um cozinheiro e um caseiro (=S). Eles dormiam no chão da cozinha na noite que cheguei (de cortar o coração) e fazem tudo para mim. Apesar da minha costumeira cara-de-pau, chego a ficar envergonhado. Me trazem água, se eu chego na sala eles já se levantam para eu sentar, não deixaram eu nem mudar minhas malas de quarto (eles levaram)...

Um dos prédios da TATA: eles estão em todos os lugares.

Uma das experiências que eu mais esperava era a de pegar um daqueles trens indianos a la quem quer ser um milionário. Tive que andar, pegar um tuk tuk, um trem e um taxi para chegar um dos prédios em que a Tata tem escritórios em Mumbai. O trem foi de longe o mais divertido. Pelo tanto de pessoas nas estações, não é de se admirar que a Índia tenha 1 bilhão de habitantes. Tudo tem fila. Depois de entender o caos da estação e com meu bilhete em mãos, achei o trem, mas entrei no vagão errado. Por assedio sexual nos trens, o governo separou as mulheres e os homens. Eu fui entrar justo no vagão das mulheres. Elas começaram a gritar que tinha um homem no vagão. Imagina mulçumanas cobertas com véu e indianas vestidas de sári me botando para fora do trem. No fim tudo acabou em boas risadas com as indianas. Na volta para casa, depois de uma hora feito sardinha dentro do trem (o transcol é uma maravilha, acreditem!), chegando na minha estação, a muvuca de homens começou a pular para fora do trem com ele em movimento. E onde eu estava? Justo na porta com cabelos aos ventos. Não tive a opção não pular, eu fui lançado com a galera para fora do trem. Sorte que do lado de fora já vinha outra centena de indianos pulando para dentro do trem, então tive quem me segurasse antes de eu dar de cara com o chão.

Lotados ate no domingo a noite

Já vi muitas pessoas perguntarem a outras que haviam viajado para Índia se elas haviam gostado ou não. Em geral, as pessoas falam que você ama ou você odeia a Índia. Eu discordo um pouco. Primeiro acho que ninguém ama a Índia. É impossível um gostar de um lugar que a melhor palavra para defini-lo talvez seja caos. Um lugar em que as buzinas estão prontas para te deixar surdo, que os estrangeiros chegam a passar mal para se adaptar a comida, que tem fila para tudo, que a cultura é de burocracia, que os trens têm gente até no teto, que atravessar uma rua pode ser uma grande aventura, que poucos entendem o que você quer dizer, que uma poeira cobre a cidade e mal dá para ver os prédios no outro lado da margem, que você tem que ficar atento para não te cobrarem mais do que o produto custa, que os rios são poluídos e as favelas estão para todos os lados... Agora, isso não quer dizer que você não pode se acostumar. Mumbai, mais ou menos, seria equivalente a São Paulo indiana – só que muito pior ;)

Água de fontes incertas: a ONU prevê que 60% da população global viverá em cidades grandes em 2028. Na Índia isso significará quase 800 milhões de pessoas. De onde vai vir a água potável?

Esta semana, uma indiana coberta com sári e véu no rosto segurava uma criança na rua em que eu passava de taxi. No sinal vermelho, ela agarrou no vidro do taxi e pedia dinheiro, apontava para boca que estava com fome. O sinal demorou tanto a abrir e ela não saia da porta do taxi. O filho dela se balançava sufocado no véu e eu não conseguia não olhar para ela. Uma cena tão triste e tão comum em Mumbai.


Essa semana, depois de ser enganado pelo motorista do tuk tuk (que queria me cobrar 5 vezes mais o preço da corrida), cheguei na empresa. Tive uma boa primeira impressão dos meus chefes, ainda assim existe uma adaptação a cultura da empresa e as minhas responsabilidades que leva tempo. Na volta, a entrada no trem foi desgastante. A estação estava tão lotada, as pessoas começavam a entrar no trem em movimento. Quando ele parava era uma briga, socos, como se a estação estivesse pegando fogo e a saída fosse a porta do trem. Quase perdi meus sapatos e entrei socado no trem depois de 4 tentativas sem sucesso. Deu vontade de chorar, eram 6h30 da tarde e pensei que ia ficar ali até meia noite para conseguir entrar em um trem.

Mas não adianta chorar que isso não vai resolver nada, não vai limpar as ruas, tirar as pessoas dos trens, organizar o trânsito, melhorar a vida de quem mora nas favelas, matar a saudade da família... A questão é se adaptar. Por isso, estou tratando de achar uma nova casa mais perto do escritório, conversando com outras pessoas da empresa e hoje vou falar com outros estrangeiros que estão aqui. Quero também começar a fazer academia (que fica na própria empresa!) porque isso me ajuda a relaxar e a ter uma vida mais saudável. Estou botando no papel algumas coisas que quero fazer nesse ano como aprender sobre como uma grande empresa funciona em um país bombante como a Índia, aprender sobre RH e Responsabilidade Social Corporativa, fazer yoga e também conhecer lugares que nunca iria como os Himalaias, o Taj Mahal,...

Trainees se encontram: motivação naqueles que passam pela mesma situação

Ao mesmo tempo em que tem as dificuldades de adaptação e as saudades, essa primeira semana já trouxe também momentos inesquecíveis, difícil de explicar sua beleza e como eles agregam para que sejamos seres humanos melhores. Como o dia em que pegamos o último trem e de tão vazio, ficamos na porta com braços para fora sentindo o vento enquanto o trem passava no meio das favelas de Mumbai. Ou o dia que sentados na praça, um indiano nos explicava sobre as castas, os casamentos e sobre como perceber se alguém era um dallit.

Desfile de sáris: a classe social é percebida na baixa ou alta qualidade do sári

O indiano apontou e disse: percebe-se que ela vem de um vilarejo, é uma dallit.

Hotel Taj Mahal: bomba de terroristas paquistaneses botou o hotel em chamas e os indianos em pânico

Porta para a Índia: Mumbai recebe o mundo por esta porta (Pyush da Índia e Akila do Sri Lanka)

Indiano para lá de fashion: eu perguntei para ele – você é um astro de Bollywood? E tirei a foto...

Partida de críquete: paixão nacional

4 comentários:

Cristal Coser de Camargo disse...

HAHAHAHA Ricardooo!!! Fui até à Índia e voltei agora!!! Aiii, poste sempre, poste muito!!!! Boa sorte com tudo!!! Mil beijos!!!

Unknown disse...

Ei Rich!!!! Nossa, quantas aventuras!! E é só o começo :)
Ah, adorei as fotos! Profissional ehm! Beijos!!!

Unknown disse...

que coisa mais maluca seu depoimento!
Rapaz, e só está começando.
vou acompanhar sempre por aqui. Vou te linkar no meu blog, ok?

bjo bjo e sucesso

Alê disse...

Rickkkkkk, como assim só li isso agora? amei! hahahahah

vo ter overdose do seu blog esses dias. qro ler tudo! =D
aaaai, q saudade das minhas aventuras por aí! :)

aproveita tudo.
saudaaaades!