sábado, 5 de março de 2011

A atitude "pe no chao" e o Mundo de Bobby

3 meses em Sao Paulo!

2010 e 2011 sao anos que ja tem caras diferentes, apesar de complementares para mim. As aventuras e o caos da India em 2010 deram lugar a uma vida mais quadrada no meio do concreto de Sao Paulo. Tenho aprendido coisas novas e "apanhado" bastante nesses meses iniciais aqui.

Passei a dividir um apartamento com outras duas pessoas - eu fiquei com o menor quartinho de todos - o que seria da empregada. Num cubiculo que vale a pena pela localizacao - numa esquina com a Avenida Paulista, a rua que simboliza o coracao dos negocios no Brasil. O aperto vale a pena na maioria das vezes pois estamos a dois passos do metro e de ruas com supermercados, eventos, bares, livrarias, shoppings, empresas,etc...o que me faz evitar as jornadas diarias de milhoes de paulistanos brigando contra o tamanho da cidade.

Voltei para trabalhar com RH no escritorio brasileiro da Tata. A expectativa que os indianos tem do meu trabalho e que ele ajude a trazer algum alinhamento entre o que a matriz faz na India e o que e feito no Brasil em Recursos Humanos. Tarefa dificil, mas que em Mumbai me pareceu um desafio excitante e uma oportunidade de me reconectar com meu pais e ganhar dinheiro na metropole nacional. Por ela deixei de lado alguns sonhos de viajar mais pela Asia enquanto tenho 20 e poucos anos, de trabalhar com negocios sociais ou no terceiro setor.

Seria o ideal de acontecer se as coisas fossem perfeitas, mas a realidade e um pouco diferente. A India (e os bons anos na AIESEC) me ensinaram a sonhar e correr atras dos meus sonhos. As experiencias que tive sempre me diziam "voce e capaz de fazer o que quiser, seus sonhos devem ser vividos afinal so se tem uma vida para vive-los"...mas a realidade dura de Sao Paulo me fez refletir sobre algumas outras verdades ou pelo menos alguns outros lados da mesma moeda.

Quando cheguei me senti um pouco sozinho, ao mesmo tempo em que as ruas estavam cheias pareciam vazias de pessoas. Meus colegas de casa viviam cada um em seu "mundo de Bobby", com seu trabalho, seus namoros, seus amigos, muitas vezes cada um enfurnado no seu quarto. Na empresa em que eu esperava realizar meu desafio de alinhar duas culturas diferentes e trabalhar modelos de gestao de recursos mais eficientes, tive as minhas ideias e sugestoes de mudanca indo agua abaixo. Passando por uma reestruturacao, o RH perdeu muitas pessosas, acumulou funcoes e nao tinha in place seus processos mais basicos.

Diante dos erros, minha postura foi oferecer ajuda para mudar. Passei a rever alguns processos e apontar possiveis melhorias, com preocupacao de me mostrar agradavel aos outros e entendendo que mudar nao e facil. Entretanto, nada parecia ser aceito ou possivel de ser implementado. Os modelos da matriz eles nao acham cabiveis,a revisao dos processos mal estruturados perde espaco diante da urgencia de "se fazer dinheiro agora" e existem dificuldades de alinhamento de cultura Brasil X India (e nao Brasil + India). Entre algumas verdades e outras tipicas resistencias a um processo de mudanca, percebi que minha vida nao seria facil.

Sendo uma consultoria, enquanto eu parecia me preocupar em rever as competencias de todos os funcionarios para dar base de informacao a equipe de vendas para saber o que ofertar em novos projetos, minha chefe me chamava atencao para o processo manual de faturamento, enfatizando: "comece a imprimir todos os emails que te enviei e em seguida te explico o processo de grampear as folhas". Oi? Enquanto eu queria educar os gestores a usarem o sistema online para evitar trabalho manual, minha chefe enfatizava: "O sistema online esta todo errado, nossa prioridade e faturar". Oi? Percebi que realmente minha vida nao ia ser facil.

Com todas minhas propostas de mudanca sempre limitadas por inumeras barreiras, somado ao custo de vida alto da cidade, comecei a me achar ingenuo em sonhar com aquele papo de um agente de mudanca positiva na sociedade. E uma questao veio se instalando na minha cabeca: ser pe no chao X sonhar.

Com as dificuldades no trabalho, percebi que a abordagem precisava mudar e que mesmo sendo agradavel por vezes ou questionador por outras, meu papel era limitado dentro da organizacao. Cabe a mim como junior sugerir a gestao algumas tendencias e possiveis acoes, mas cabe a eles aceitar ou nao a implementacao. O mesmo em relacao a cidade, SP e grande demais e muito segmentado em perfis de pessoas, grupos, comunidades. Nao farei parte de todas, tenho que enfim encontrar "minha turmar". Essas ideias me fizeram refletir que temos limitacoes ou como bem disse a revista Vida Simples, as escolhas trazem consigo castracoes.

Hoje, com a cabeca vagando entre questoes financeiras, poupanca, contas a pagar, aposentadoria, familia...e viagens que sonho fazer, projetos que sonho realizar, grupos que sonho me envolver, paises que sonho visitar...pe no chao versus sonhar, um novo olhar sobre minhas limitacoes e meus potenciais parece comecar a ganhar seu espaco.

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