domingo, 28 de março de 2010

Nova casa

Depois de sermos despejados do antigo apartamento, tivemos que rebolar para encontrar uma casa para morar em Mumbai. Acabamos mudando para um flat que tem rendido, no mínimo, histórias interessantes.

Minha rua: bandeiras do Paquistao em todos os lados

O lugar é uma área muçulmana, perto de uma estação do trem em um dos bairros mais lotados da cidade. As bandeiras do Paquistão estão para todos os lados. Nosso prédio ainda está em construção e apesar de ter 11 andares, temos apenas 5 vizinhos! Outro dia recebemos a visita de uma família muçulmana, pai, filho, tio, cachorro,...todos de branco, com a barba batendo no peito vieram tocar na nossa porta para conhecer os "vizinhos firangue (estrangeiros)".

O choque cultural com nossos vizinhos é inevitável. Somos estrangeiros com hábitos,roupas e comportamentos diferentes,...uma cena comum de elevador são 4 mulheres de burca preta apenas com os olhos de fora, um marido barbudo e a gente com roupa de praia, óculos de sol, sunga, biquini,...indo para piscina em um domingo de sol.

Quando as vizinhas de burca passaram pela Andrea (uma alemã de olhos azuis e roupas curtinhas) outro dia, senti como naqueles filmes em que a cena vai mais devagar, uma brisa sopra seu rosto. A diferença cultural é gritante.

Temos a impressão de que todos os vizinhos da rua sabem quem nos somos, onde moramos, o que fazemos, o que comemos, nossa vida no bairro muçulmano é mais vigiada que Big Brother. Um dia chegamos tarde, as 2h da manhã e os porteiros do prédio se recusaram a abrir o portão.Como assim? A casa não é nossa? O dono do prédio não quer ninguém chegando depois da meia noite. O jeito é pular o muro. Agora o boato na vizinhança são os firangue de costume estranho pulando muro as 3 da madrugada.

Nossa rua principal é cheia de pessoas dos vilarejos trabalhando em construção e dormindo nas calçadas, vacas, tuk-tuks, motos, carros, fumaça, muçulmanos, hindus de sari,...parece um pote de culturas e barulho. Misturaram poluição com muita gente, cheias de costumes, deu nossa vizinhaça. A trilha sonora são as mesquitas que rezam para Meca 5 vezes por dia, ecoando por todo o bairro.

Meus novos colegas de casa são figuras com vidas completamente diferentes que parecem ter saído de um desenho animado, um filme ou uma história de fantasia. Por favor conheçam:

Andrea

Andrea é uma alema de Berlin, que fala frances e adora musicas em espanhol. E Uma menina doce de 28 anos de idade, que pelo rosto parece ter 21. Sonha com o dia que o namorado da Croacia vai chegar na India (nessa semana!) e ela vai ser feliz para sempre. Com ela nao tem doce, nem salgado, sempre vem um a casquinha de fora ta salgada, mas o recheio ta bem doce,... Onde ta a Andrea? Ultimamente ela tem dito mais naos, se permitido acordar de mal humor. Sem saber direito sobre o futuro, por acaso veio para na India. Andrea, voce gosta? Hum...

Andrea e seu novo sari

Ashlee

Ashlee e Ira

Ashlee é uma canadense de Calgary que parece que nasceu para brilhar. Doce, bonita, inteligente, viajada, bem vestida, bem amada. Nao reclama de nada, tudo ta otimo, a vida é linda. Parece que ela tem uma vida perfeita. E onde estao os problemas? "Tudo ta otimo, foi incrivel...tenha um bom dia." Uma pessoa extramamente cativante, facil de lidar e esbanjando beleza e carisma.

Ira

Ira é sagitario. Criada no frio congelante do Cazaquistao (pais que ela detesta), é uma sonhadora que quer viajar, conhecer o mundo, se apaixonar e ainda trabalhar por impactos positivos na sociedade ;) Morou em Hong Kong por um ano, agora 6 meses na India e sonhando com o proximo destino: o Brasil! Cazaquistao? Nunca mais, diz ela. Como boa sagitariana, a Ira quer viver, brigar, aparecer, ser feliz, dizer o que pensar. Carpe diem para ela ;)

Kay

Kay é nosso outro alemao. Dancarino de salao, parece que foi famoso na Alemanha nos palcos de danca. Acabou abandonando os palcos, manteve uma flexibilidade incrivel e veio trabalhar com vendas de redes de telecomunicacoes na India.

Taline

De pais nascidos no Irã e criados na Armênia (uma região esprimida entre a Turquia e o Irã) Taline foi nascer francesa em Paris. Estudar nos Estados Unidos, faculdade em Londres, namorado em Bangladesh e verões com os avós no Irã. Uma história de vida já interessante, mas que vira fichina perto da figura que essa menina é. É uma mulher de altas expectativas. Quer ar condicionado, não suporta poeira, mosquito, quer que os muçulmanos parem de cantar, vai desmaiar com o calor, o ventilador tem que ficar na velocidade 3, acorda com qualquer barulho, não gosta do pessoal do RH,...as reclamações eram tantas que a minha vontade diária era mandar para...

Taline é boêmia, quer os prazeres da vida. Ouvir rock, curtir, tomar café importado, visitar areas ricas da cidade, falar mal da Índia e ao mesmo tempo é a que mais sabe hindi e se apaixona pelos sáris. Ela é capaz de se arrumar para ir ao Holi (festival das cores), passar oleo na pele, enrolar o cabelo, passar hidratante e chegar la, dizer que tem alergia a tinta, nao pode se sujar e ainda ser a primeira a levar uma bolada de tinta bem na cara. Taline é uma menina que cresceu mimada, sem um país de origem, nasceu no mundo, quer cutir o que a vida tem de melhor, sem nenhum arrependimento por isso.

Moqueca de verdade!Pai vai ficar orgulhoso ;)

Ontem foi a primeira vez que recebemos convidados, cozinhando em nosso modesto fogao eletrico. Fizemos um jantar brasileiro & colombiano.

Nidhi (trabalhamos juntos na Malasia) e Rahel (presidente da AIESEC Mumbai)

Fiz moqueca, arroz e feijao preto. Feliz da vida ;)

domingo, 14 de março de 2010

India

Depois de 3 meses e meio, algumas reflexoes.

A Índia


É um país fantástico e de uma cultura extramamente diferente da brasileira. A forma das pessoas se comportarem, como elas dão sua opinião, das buzinas ensurdecedoras, trens superlotados ao clã das famílias, os casamentos arranjados. Das milhares de crenças, culturas, idiomas, religiões e da a idéia de que o grupo sempre prevalece (e não o indivíduo)as condições de vida precárias de centenas de milhões de indianos (que te fazem pensar "que raios é isso de dignidade humana?").

Quando cheguei aqui tive uma sensação parecida com aquela de quando estamos boiando na água em um mar bem profundo. Você sabe que tem um mundo debaixo da superfície, peixes, corais, terra,...e muitas coisas que você nem sequer imagina. Mas você não tem fôlego para descer o suficiente e por mais que você nada, parece que estará sempre na superfície.

Mumbai (ou Bombay)

Tem um livro que uma amiga está lendo chamado Mumbai Maximum City (Mumbai Cidade Máxima) em que o autor descreve o sonho e o pesadelo que Mumbai pode ser. Uma cidade com quase 20 milhões de pessoas, socadas em uma ponta de ilha na Mar Arábico. Uma das maiores densidades populacionais do mundo. Mumbai é o motor que acelera a economia e o sonho dos indianos no século 21. De milhões de pessoas que vem de vilarejos e lotam as favelas urbanas, de milionários gastando em um almoço o que os pobres da favela nao ganham em um mês, empresas internacionais, astros de Bollywood, miséria, poluição, barulho, gente (muita gente!) e um pote de culturas misturadas, linguas, crenças, festivais...

Em Mumbai, você encontra a maior favela da Ásia, indianos de todas as castas, as mansões e os astros de Bollywood, todos credos e idiomas possíveis, paquistaneses, parsis,hindus, católicos ...os jains não comem batata e cenoura porque acreditam que a colheita desses legumes mata os organismos que vivem na raiz do vegetal, se vestem com um pedaço de pano e só andam descalços em lugares cobertos com panos para evitar matar eventuais formigas (seres vivos e portanto sagrados)...os parsis mantem uma chama acesa no sul de Mumbai queimando por dezenas de séculos e quando os familiares morrem são dispostos em uma torre aberta para que os urubus venham e comam os restos...os hindus não comem carne de vaca, perguntar por um açougue é fora de cogitação.

Mumbai é um como um tapa na cara do estrangeiro. Não de dá espaço. A cidade é o que é e o melhor é entrar na sua sintonia. A sua beleza se revela com o tempo. Certamente uma das cidades mais interessantes do mundo.

Os estrangeiros

Os estrangeiros são literalmente um pé no saco. Pelo menos os que eu tenho convivido =P É muito difícil se adaptar a Índia e ao mesmo tempo é muito fácil reclamar. E é isso que muitos acabam fazendo e deixam de lado a fantástica oportunidade de se entregarem por completo ao país e ter uma experiência única, capaz de ampliar a visão de mundo, de como as coisas podem ser feitas de forma diferente e de como a cultura influencia quem somos.

Vejo estrangeiros reclamado do calor, dos mulcumanos nas mesquitas que cantam o dia inteiro, da poluição, dos indianos serem golpistas, de não entenderem as coisas "estranhas" que eles veem, da comida, da pobreza,...de tudo! Por que nao volta para casa? Acabam ficando dentro de "grupos de estrangeiros", la dentro e mais confortavel.

Uma vez li um artigo do "The economist" que falava mais ou menos assim: "Talvez os estrangeiros sejam, por natureza, pessoas dificeis de se satisfazer. Um estrangeiro é, ao final das contas, alguém que não gostava o suficiente do próprio país para ficar lá. Ainda assim o estrangeiro reclamão traz uma contradição lógica. Ele reclama do país em que se encontra, ainda assim está lá por escolha própria. Por que simplesmente não volta para casa?"

segunda-feira, 1 de março de 2010

Feliz Holi!

Holi: Festival das cores

O Holi é um dos feriados mais esperados na Índia. Aconteceu hoje, 01 março. É como um carnaval, em todos os lugares as pessoas passam o dia celebrando com cores. Põem uma roupa velha e saem na rua para comemorar.

Feliz Holi!

Logo ao sair de casa, sua cabeça já está em risco de levar uma bolada de cores misturadas em um saco plástico.

Crianças celebrando Holi

No final do dia o resultado, é uma cidade colorida de vermelho, violeta, verde,...e um bom banho para tentar tirar as cores.

O vídeo abaixo mostra a doçura das crianças indianas ao brincar o Holi...


Holi com as crianças super da paz