segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Dharavi, os problemas, as soluções e a praia

As últimas semanas na Índia foram loucas como de costume.Há umas duas semanas, descobrimos, por meio de um guia chamado Lonely Planet, que existia uma ONG que organiza tours ao Dharavi. O que vem a ser isso? O Dharavi não é nada menos do que a maior favela da Ásia. Foi lá em que foi gravado o filme Quem quer ser um milionário.

Cena do menino usando o banheiro público em quem quer ser um milionário

Reservamos e lá fomos em 8 pessoas, ao encontro dos guias do Dharavi. Eles nos esperavam na estação do trem, que fica do lado da favela. O Dharavi é uma favela esprimida entre dois bairros ricos de Mumbai. Em uma área talvez do tamanho da Praia da Costa moram 1 milhão de pessoas. Em grande parte muçulmanos e migrantes de vilarejos da Índia.

Mesquitas muçulmanas: as orações ecoam na favela o dia inteiro

Os níveis de violência são baixos e nem de longe se comparam com as favelas brasileiras. Mas o que assusta no Dharavi é a favela em si própria. É arrepiante.As casas são esprimidas, não tem prédios, não tem espaço. Famílias inteiras moram em um quarto único. Não existe privacidade no Dharavi.

Privacidade zero

O banheiro é ao ar livre. Como no filme quem quer ser um milionário, as crianças e homens simplesmente abaixam a calça na beira do rio poluído de esgoto e fazem tudo ali mesmo. A falta de saneamento básico é chocante. Uma tubulação enorme com água chega ao Dharavi. Essa tubulação corta um rio coberto de esgoto e lixo. Muito lixo. E em cima da tubulação, as crianças correm atrás da bolinha do críquete.

Tubulaçao com água chega para abastecer um milhão de pessoas

Subimos em uma telhado para ver a favela de cima e vimos vários telhados cobertos com lixo secando ao sol para reciclagem. Visitamos indústrias caseiras de fabricação de couro e tecido e de artesanatos de barro. Eles ao todo produzem 690 milhões de dólares no Dharavi. Dinheiro que, sem dúvidas, não está contribuindo em nada para melhorar a vida de quem mora lá.

Tubulaçao com água potável corta o esgoto

Ao todo faz dois meses que estou aqui. Sinto que foi o tempo necessário para quebrar esse casco que os estrangeiros tem que enfrentar quando vem para cá.

Imagina você saindo da sua casa, onde você tem sua comida na hora certa, sabe como a cidade funciona, entende a cultura...e chegando em um lugar que você não entende a cultura, não tem uma casa, não sabe pegar um ônibus, não come a comida,...

Muda tudo. Desde as coisas mais simples como entender o funcionamento da estação do trem até coisas mais complexas como religião, valores, crenças populares,...E essa diferença na mesma medida que cansa, renova as energias, te faz mais forte.

As última semanas foram loucas porque depois de um mês que achei que tinha meu canto em Mumbai, sabia pegar ônibus, tava comendo bem, lavando a minha roupa...fomos pedidos para sair do nosso apartamento, meu celular foi bloqueado, volume alto de trabalho, fiquei sem internet,...problemas pequenos quando vem um de cada vez. Mas e quando vem todos? E quando são combinados com um trem superlotado? Uma comida apimentada?

Rodamos atrás de apartamentos, fizemos e desfizemos panelinhas para enfim todos virem juntos morar no nosso novo flat!! Tivemos que pagar uma fortuna ao broker e ao dono. O broker é um cara que acha o apartamento para você e participa de toda a negocição com o dono. É prática comum na Índia, ainda mais em Mumbai. Aqui tudo é barato, mas alugar um apartamento é caríssimo. O que a gente morava custava 2500 reais por mês!

Agora estamos morando bem do lado da estação do trem. Imagina uma rua lotada, dobra. Adiciona vacas, galinhas, tuk tuks, caminhões, ônibus, carros, comércio de rua e muita, mas muita gente! Essa é minha nova vizinhança. Uma típica rua indiana, aquela que vem a cabeça quando você pensa na Índia ;)

Esse fim de semana tive um descanso da barulheira de Mumbai. Fui facilitar um treinamento sobre cultura com a Marina, una russa que trabalha na Tata comigo. Viajamos para o sul da Índia, uma cidade chamada Trivandrum, bem na pontinha, perto do Sri Lanka.

Coqueiros a perder de vista

O estado se chama Kerla e é famoso pela medicina ayurvédica, por ser comunista e ter recebido vários imigrantes do Tibete, pelos elefantes, pelas praias, coqueiros a perder de vista e pelos passeios de barco nos rios.

Massagem ayurvédica com óleos

A Tata organiza um treinamento de 3 semanas para executivos seniores que vão trabalhar com vendas, coloca todo mundo lá ne nesse centro rodeado de coqueiros de domingo a domingo. Como eles querem explorar mercados emergentes como América Latina e Europa Oriental, eu a Marina organizamos um treinamento sobre cultura, nossos países e sobre negócios nessas regiões.

Quarto da Tata

Foi super divertido, apesar deles terem anos na empresa, nos integramos muito bem. Começamos pagando um mico com uma dinâmica em que eu e marina estavamos vestidos com toalhas, a cara pintada para simular um jogo com eles.

Marina e eu

No domingo estavamos livres e fomos para a praia! Me esbaldei no sol e queimei feito uma pururuca. Tostei. Fiquei igual camarão. Fiz massagem ayurvédica com óleo quente e não queria mais sair daquele lugar.

Centro de massagem ayurvédica

De imprevisto, levei um tombo no quarto do hotel e cortei o pé. De volta a Mumbai, a médica da empresa fez um curativo e me deu uma injeção anti tétano advinha a onde? Na bunda! Virei a bunda para a indiana e levei uma agulhada. Agora to andando mancando, queimado e com a bunda doendo. Ainda tenho que correr para pular dentro do ônibus. Chalo ;)

2 comentários:

Renata Murari disse...

ahuahauha Ai Ricardo, vc comeca o post dando aquela aflicao e termina me fazendo morrer de rir. O negócio tá ficando incrível aí pelo jeito. bjoo

Dani Araujo disse...

Huahuahuahuha

Adoro demais ler suas aventuras! Fico imaginando suas caras e bocas em cada acontecimento =D