sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eat, Pray, Love

Na Malásia comecei a ler um livro chamado "Eat, Pray, Love", acabei hoje de lê-lo. É a historia de uma mulher que após um difícil divórcio e uma depressão, decide viajar 1 ano pelo mundo, em busca de prazer e equilíbrio. Os destinos escolhidos vem ao acaso. Ela decide ir à Itália por querer aprender italiano, ir à India para buscar espiritualidade e à Indonésia para reencontrar um curandeiro. A princípio, a viagem significava estar a sós e deixar a vida fluir, indo atrás dos pequenos interesses que surgem no dia a dia. Ao longo do caminho, se torna um aprendizado sobre como se conhecer melhor e atingir o equilíbrio pessoal. Em breve, este livro virará um clássico de Hollywood, estrelado pela Julia Roberts.


Comprei o livro porque de alguma forma sentia uma conexão com a história dela. E engraçado, que ao longo desse mês de leitura muitas pessoas vieram me dizer que também gostariam de lê-lo. Das duas uma (ou as duas): ou este livro está virando moda ou todos estão buscando por equilíbrio e admiram a história de uma americana que deixa seu trabalho e vai viajar por 1 ano.

O livro me foi indicado por uma amiga polonesa com quem trabalhei. Logo nos primeiros dias, sentimos uma afinidade forte em uma conversa de almoço. Nossas cabeças cheia de dúvidas, inseguranças, perguntas. Pareciamos dois espelhos, questionadores, as perguntas iam e voltavam. Falamos sobre tudo: futuro, valores, amizades, amores, talentos, pessoas, sociedade,...e para tudo tinhamos um argumento e várias perguntas. Além dos interesses em comum, minha amiga polonesa tinha várias indicações de leitura. Quando comprei o livro, ela deu vários pulos. Eu fiquei feliz com a cena. ;)

Amiga polonesa

Somos inquietos e preocupados por natureza. Minha amiga polonesa só ficou mais tranquila (eu diria feliz e equilibrada =) quando finalmente seu grande amigo polonês chegou e ao mesmo tempo ela conseguiu um emprego que queria (uma coisa não tinha a ver com a outra): vai trabalhar em uma organização chamada "Carpets for Communities" na Australia. Este projeto foi criado há 4 anos por um australiano, que após cruzar a fronteira da Tailândia com o Camboja, viu a realidade de extrema pobreza de crianças trabalhando e pedindo dinheiro a mochileiros que se aventuram nessa região do mundo. No projeto, as mães cambojanas fazem tapetes e mandam seus filhos para escola. Esses tapetes são vendidos na Australia.

Carpets for Communities

Antes de viajar para a Ásia, eu tinha várias expectativas. Porém todas pouco claras. Meu ano de 2009, até então, tinha sido muito difícil. Me sentia cansado, desconcentrado e talvez, triste. Muitos pensamentos ao mesmo tempo.

Uma das minhas expectativas era espiritual, já que estava indo para um lugar com várias crenças, mitos, religiões,..esperava entender um pouco daquilo que eu não entendia ("o que está fazendo aquele leite de coco dentro da bacia com a banana em frente a um elefante com 6 braços?") e aprender algo novo que pudesse trazer de volta.

Primeiro confirmei algumas coisas: o sudeste asiático é uma região de muitas crenças e rituais. Além de ser dificil entender as simbologias e histórias dos deuses do hinduismo, tinham os cantos mulçumanos nas ruas, cidades que eram redutos cristãos, crenças populares chinesas, mitos tailandeses, rituais indonésios,...e o budismo. Este, praticado por quase 100% da população da Tailândia, Camboja, Laos e Myammar.

Queria compartilhar em especial sobre o budismo, filosofia apoiada em idéias simples e que me soam muito lógicas.

Antes de chegar ao Meditation Study and Retreat Center de Bangkok, tudo que eu sabia sobre o budismo eram idéias soltas. Uma delas é a idéia de que na vida tudo é impermanente, ou seja, nada dura para sempre.Outra é a idéia de que só existe o presente, ou seja nada de viver do passado nem se iludir com o futuro.

Fora as perguntas típicas (Por que o buda está deitado agora? Para que as pessoas oram para o Buda se ele não é um Deus?), queria fazer uma aula de meditação. E por isso fui a esse templo, que tinha aulas em inglês. Pensava que seria chegar, sentar na sala e o monge diria como meditar, daí eu meditava e ia embora tirar fotos de outros templos.

Fui pego de surpresa por um monge (talvez não era exatamente um monge) muito inteligente (talvez a melhor palavra seja sábio) que era voluntário neste centro. Seu nome é Manit Vichitchot. Ela foi professor de engenharia elétrica, morou nos Estados Unidos, fala inglês perfeitamente e agora é voluntário neste centro de meditação em um templo budista na Tailândia. Acabei de encontrá-lo no facebook ;)

Ele me atendeu com a paciência que eu esperava de alguém que medita há anos. De alguém que nasceu em uma sociedade budista. Sentia que durante nossa conversa, ele não tinha qualquer preocupação com a passagem do tempo. O tempo era algo relativo. E foi assim que passamos 4 horas entre conversas e poucos minutos de meditação.

Manit não queria me deixar meditar, disse que eu não sabia. Antes de me deixar "entrar", ele preferiu que alinhassemos nossas mentes e visões do que tudo aquilo significava. Abriu espaço e eu começei minhas perguntas:

O que é o budismo? Como o Budismo encara planejar sobre o futuro? Para que serve a meditação? O que você acha do Dalai Lama? Para que tantas orações nos templos? Qual a diferença entre meditar e fazer yoga?

Manit manteve o tom "sábio" de conversa, estimulava perguntas e era simples e objetivo nas respostas. Do que entendi (assumindo os riscos das palavras =P): o budismo fala que a forma como as pessoas enxergam o mundo depende de como elas "controlam suas mentes". Mentes confusas verão confusão, mentes simples verão simplicidade e assim por diante.

Eles acreditam que nada dura para sempre, nem a felicidade nem a tristeza. Dizem que é fundamental que se viva o presente, pois o passado não existe mais e o futuro é apenas uma ilusão da mente. Acreditam que as boas escolhas vem do autoconhecimento e que todas as respostas estão dentro de nós. Pregam o "não apego" por acreditar que se apegar às coisas está na origem da infelicidade. Fala sobre viver uma vida simples, comendo nas horas certas (duas vezes por dia: uma depois do sol nascer e outra antes dele se pôr) e evitando distrações da mente (como fumar, roubar, mentir,...).

Acreditam que o sofrimento deve ser controlado e para controlá-lo, existe a meditação. A meditação é, então, uma técnica sobre como "controlar sua mente" para evitar o sofrimento e entender a verdade. No folder do centro de meditação, eles listam os objetivos do curso de meditação que é realizado uma vez por mês durante 7 dias:

- Ajudar a pessoa a levar uma vida em paz de acordo com a filosofia budista;
- Cultivar a mente;
- Ser uma técnica para resolver problemas do dia-a-dia;
- Mostrar as obrigações dos monges budistas na sociedade;
- Levar à cessação do sofrimento (em busca do nirvana);


Na prática, meditar é um esforço para trazer sua mente para o presente por meio de técnicas de respiração e concentração. Você pode perceber que sempre sua atenção é desfocada, pensamentos vem um por cima do outro e na maioria das vezes, estamos pensando em coisas que ou já passaram ou nem existem ainda.

A principio, meditar é muito difícil porque não estamos acostumados a ficar quietos e "controlar a mente" passa a ser um exercício cansativo.

Tudo isso parece muito lógico e fazer sentido, não? Aí está a origem de uma das minhas maiores dúvidas: levantar essas questões sobre como as pessoas se entendem, como se relacionam com o mundo,..exige uma certa maturidade emocional e de reflexão que talvez, arrisco dizer, nem 1% da população do mundo está disposta/ consciente de que deva ter. Então, como explicar que quase 100% da população daqueles países serem budistas? São esses tipos de questões que eles discutem nos templos?

Não. Essa foi a resposta de Manit. Ele encerrou nossa conversa refletindo:

"O ser humano é um seguidor por natureza. Ele precisa de alguém dizer como se deve fazer, para ir atrás, seguir. Essa é a base das religiões. Principios, valores que são seguidos, sem questionamentos. Sem questionar se aqueles valores e principios estão falando, na verdade, sobre quem você é. Infelizmente o que se vê na Tailândia não é diferente disso. Uma grande parte da população é pobre, muitos seguem os cantos feitos nos templos apenas porque sempre foi assim. Os pais e avós sempre fizeram os cantos. Daí essa é a mesma população que vende imagens de budas, criam figuras à semelhança do homem, fazem pequenos templos com incensos nas ruas e lotam feiras com souvenirs. Mas estamos caminhando para um futuro, talvez, mais consciente."

A sinceridade do monge me deu um banho de água fria.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A conferência internacional no sudeste asiático

2 meses, 11 cidades, 5 países, 12 vôos. Do encontro com a AIESEC no Brasil, em São Paulo aos templos budistas da Tailândia, chegou ao fim uma experiência difícil de começar e ainda mais difícil de terminar: a organização do congresso internacional da AIESEC, realizado este ano em Kuala Lumpur na Malásia.

Difícil de começar porque não é nada fácil deixar a presidência do escritório da AIESEC em Vitória, correr com as aulas na universidade, encerrar um estágio e embarcar para a Malásia, país que fica literalmente do outro lado do mundo. Mas organizar o congresso internacional da AIESEC era um sonho para mim e sentia que devia realizá-lo.

Há 1 ano quando o mesmo congresso aconteceu em São Paulo, saí do evento de abertura com um cartão postal da Malásia, com a idéia na cabeça de que no ano seguinte seria em Kuala Lumpur. Colei este cartão no mural do meu quarto. Sentia que estaria lá um ano depois. De que forma, ainda não sabia. Os meios, na época, não importavam. Foi uma daquelas sensações de completa conexão. E arrisco dizer que, na vida, é uma daquelas boas decisões que você tem certeza de que deveria tomar.

Com pressões diversas, embarquei para Malásia. Sem colocar no papel pontos positivos e negativos já posso dizer que essa foi uma das experiências mais fantásticas da minha vida.

Difícil dizer o que mais me marcou. Fatos curisosos, engraçados, felizes, tristes e sempre intensos ocuparam esses 60 dias fora de casa.

No Camboja, andando de bicicleta pela floresta onde estão os templos de Angkor, uma chuva tropical desabou. Perdido na mata, ocupada no passado por minas terrestres da guerra com o Vietnam, me agarrei na traseira de um tuk tuk e 4 vezes mais rápido, me vi acelerado no meio do transito caótico de motos e tuk tuks na cidade de Siem Reap.

Por um lado, sentia medo de o tuk tuk parar do nada e eu ser jogado a metros de altura. Por outro, a adrenalina era tanta que me fazia duvidar que essa cena estava realmente acontecendo.

Em Bangkok, me vi sem passaporte e parado pela policia a 1h da madrugada junto de outros 4 gringos (ninguém falava tailandês) quando super lotávamos um táxi, indo para as famosas ruas de prostituição que fazem fama na Tailândia.

Em Singapura, andei sem parar durante 2 dias, dividi quarto com 20 mochileiros e tive uma crise de exaustão física, com direito a ânsias de vomito e uma semana de depressão em Kuala Lumpur.

As pessoas me perguntam como foi a viagem. Segue-se um silêncio. Não sei por onde começar. Não sei o que devo contar. Sinto que tenho que agradecer. Agradecer aos meus amigos de perto ou de longe, à minha família, às pessoas do comitê organizador, a todos que encontrei na conferência. Eles fizeram essa experiência ser uma grande lição na minha vida.

Talvez me falta capacidade para escrever e transmitir valores, aprendizados, emoções. Mas arrisco dizer algumas coisas.

No geral foi uma grande experiência de aprender a lidar com o outro, uma lição sobre convivência. Já que estavamos sempre com alguém, sempre em grupos, times, amigos. Foi uma grande lição cultural, viajar pela história de países muito diferentes desafiava a minha visão de mundo: ver crianças trabalhando nas ruas do Camboja, filipinos imigrantes em Singapura, monges em meditação na Tailândia, muçulmanas em silêncio na Malásia.

Uma grande lição que aprendi com essa experiência é a de que para se fazer algo na vida que tenha impacto, seja relevante, você precisa estar apaixonado pelo que faz. Talvez isso não valha para todos, afinal as pessoas tem valores diferentes.

Outra lição é a idéia de que não temos nada além do presente. Por mais que façamos planos para o futuro ou temos boas lembranças do passado, o que realmente existe é o presente. E que estar presente exige esforço contínuo, aprendizado sobre como disciplinar a própria mente.

A conferência internacional foi fantástica. Trouxe mais de 600 pessoas de 110 países. Em dias de sessões com empresas, organizações sociais, governo e AIESEC internacional e com noites de eventos e festas. 14 dias intensos de muito aprendizado.

Almoçar com pessoas do Oceania, organizar uma festa para celebrar a cultura africana, discutir empreendedorismo e liberdade feminina com pessoas do oriente médio. Cada conversa, cada momento, era uma oportunidade única de aprender algo novo.

Da convivência com os colegas do comitê organizador às conversas de corredor com os delegados,...do apoio da equipe do hotel às preocupações com a gripe suína,...das amizades e decepções ao fantástico jantar formal...o IC foi único.